Música e Cinema + Downloads : 'Os Estados Unidos Vs. Billie Holiday', de Lee Daniels (2021) (Torrent Download)
Existe um preciosismo da indústria cinematográfica norte-americana em torno de seus ícones. Desde o início da popularização do cinema, as cinebiografias ganharam o gosto do público rapidamente e, hoje, com a tecnologia disponível, voltar a diferentes épocas torna as retratações de diversos ídolos ainda mais preciosa. Com isso em mente, Lee Daniels não resistiu e retratou uma das divas do blues em “Estados Unidos vs. Billie Holiday”.
Apresentando a última década de sua vida, o filme leva o espectador aos anos 1950, cuja importância histórica e social ainda se reflete nos tempos atuais, sobretudo em questões relacionadas à segregação e ao racismo enraizado nos Estados Unidos. Desta forma, apesar de negros não poderem viver em sociedade de forma plena, alguns ídolos eram criados para satisfazer plateias homogêneas e prontas para atirar as notas de um dólar no palco, por maior que fosse o talento deles.
Por outro lado, com a possibilidade de referências serem criadas, a música e o cinema ganharam desbravadores que merecem muito mais do que uma cinebiografia: precisam ser lembrados como os pioneiros que deram a cara a tapa quando, por muito menos, poderiam ser linchados em praça pública. Como bem lembrou a personagem de Viola Davis em “A Voz Suprema do Blues”, “Eles pagam os ingressos enquanto formos relevantes aos seus olhos. Mas, somos esquecidos assim que a última nota acaba e, em seguida, nossa cultura é apropriada”. “Eles” representam a sociedade branca.
Nessa produção, o espectador viaja aos anos 1950 para acompanhar o ápice e o declínio de um gênio musical: Billie Holiday (Andra Day). Sua voz aveludada, seus tons vocais completamente dominados por letras profundas e melancólicas. Tudo refletia essa mulher e sua história. E sua presença de palco dominava cada milímetro do ambiente em que estivesse, seja ele qual for. Por isso, não poderia ser alguém diferente para levá-la ao cinema.
Andra Day é formidável ao traduzir as nuances de protagonista, como seu talento insuperável diante de um microfone, a história de vida acompanhada por tietagem de sua equipe – que, como se sabia, cuidava de seu frágil ego por considerá-la quebrável e, assim, deixava-a no patamar superior ao qual se acostumou. Enquanto isso acontecesse, ela estaria controlada e, por sua vez, o problema com álcool e drogas se tornaria irrelevante diante da habilidade que conseguia mostrar. Porém, como muitas mulheres de sua época, foi silenciada pelo casamento, que chegou no formato de um golpe e permitiu que seus ganhos fossem sugados constantemente.
Além disso, a força com a qual a cantora entoava suas canções também era constantemente testada. Apesar do que poderia vivenciar através do sucesso e do talento, sabia de onde tinha saído, um local onde negros eram linchados como se fossem menos humanos. Logo, o grau de ansiedade era gigantesco, sendo este vencido pela batalha que travou contra o FBI, em uma perseguição sem fim por conta de sua canção Strange Fruit. É justamente nela que há uma letra poderosíssima sobre racismo, violência e tratamento da sociedade afro-americana naquela primeira metade do século passado.
Consequentemente, esta viagem cinematográfica ganha contornos de denúncia, sobretudo por seu desfecho. Entretanto, nas mãos de quem sabe pesar as mensagens como poucos cineastas norte-americanos atuais, o exagero aparece em certos momentos. Lee Daniels, que surpreendeu com seu chocante “Preciosa: Uma História de Esperança”, mas que pesou a mão em “Obsessão” e “O Mordomo da Casa Branca”, agora pesa um pouco menos, ainda que exagere ao apresentar Billie em quase todas as cenas sem torná-la significativa como merecia.
Aliás, o cineasta não aproveita tão bem a premissa, ou seja, o embate em formato de perseguição que a cantora sofreu por tantos anos com o FBI em sua cola, deixando para o terceiro ato o verdadeiro significado de sua mensagem. Enquanto o primeiro ato traz a capacidade artística da protagonista em uma bela construção de personagem, o segundo ato se perde em meio às idiossincrasias da artista, diminuindo a importância de sua batalha contra o governo dos Estados Unidos.
Então, por um lado, Andra Day se destaca, mas, como bom diretor de elenco que Lee Daniels é, extrai bons desempenhos do resto do elenco: a rápida participação de Leslie Jordan, a composição tímida de Trevante Rhodes e até mesmo a sagacidade quase psicopata do que Garrett Hedlund fez merecem destaque. No entanto, a personagem principal não brilha como poderia. O que tira o foco da composição da atriz é justamente o roteiro de Suzan-Lori Parks, que escolhe momentos duros de sua vida para torná-la mais humana, porém, acaba por exagerar na tridimensionalidade, o que soaria caricato se não fosse pela intérprete.
Por sua vez, merece destaque positivo a fotografia de Andrew Dunn, que trouxe vivacidade e textura aos atores, aproveitando os momentos em cima do palco quando a música conversa com a alma da cantora – assim o destaque que ela recebe ganha profundidade visual sem a necessidade de óculos 3D. Além disso, a direção de arte de Félix Larivière-Charron ganha mais detalhes com a fotografia bem aproveitada, o que fecha a composição com o figurino de Paolo Nieddu.
Ainda que não seja uma cinebiografia convencional, justamente por conta da premissa de trazer o embate que nunca acontece (o que, na verdade, poderia ser substituído pela luta de Holiday contra as drogas) “Estados Unidos vs. Billie Holiday” ganha mérito pela direção de Lee Daniels. Porém, o comando da história e a montagem dos três atos são confusos e não fazem jus ao talento da homenageada em questão.
(por Denis Le Senechal Klimiuc para o site Cinema com rapadura) (Link)
O Trailer
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