Eu Estava Lá... Coldplay (Via Funchal, São Paulo - 03/09/2003)
Eu Estava Lá... Coldplay (Via Funchal, São Paulo - 03/09/2003)
''Só existem dois tipos de pessoas que não gostam de tocar em estádios, para grandes multidões: Os estúpidos e os mentirosos'.
(Bono, citando Noel Gallagher, em entrevista para a MTV em 98).
Sim, é verdade. Pense bem; Se você algum dia comprou um instrumento e montou a sua bandinha, mesmo que ela só tenha tocado no fundo do quintal da sua casa, você sonhou em tocar a sua música para multidões, experimentar ver todos cantando em uníssono a melodia que voce compôs no seu quarto, sem pretensões, com uma letra que fala de algo extremamente particular a seu respeito. Sentir ao vivo milhares de pessoas conectadas a um sentimento que você proporcionou.
Eu já passei por essa experiência duas vezes; Com o U2 e o R.E.M. .
Com o U2 principalmente, porque Bono é uma figura ímpar nesse sentido. Você fica ali, cantando um dos milhares de hits da banda e pensando como um cara baixinho consegue chamar pra sí a atenção de 200 mil pessoas em um estádio, tendo que disputar espaço (e muito espaço) com um telão gigante, uma azeitona do tamanho de um edifício e um limão espelhado em formato de nave espacial.
É uma sensação de poder quase messiânica, religiosa. Como ele mesmo um dia disse, experiência assim, só em jogos de futebol.
É uma sensação de poder quase messiânica, religiosa. Como ele mesmo um dia disse, experiência assim, só em jogos de futebol.
Quase todas as bandas de hoje em dia não querem esse tipo de coisa para o seus trabalhos, ficam dizendo que fazem música pra 'si mesmas', que o legal é tocar em lugar pequeno, e sentir o calor das pessoas ali pertinho.
Sim, é legal também, muito legal mesmo. Mas que passa pelas duas experiências sabe a diferença. E a maioria dessas bandas, não tem o poder de domar uma massa, mas quem domina uma massa, toca em qualquer lugar.
Sim, é legal também, muito legal mesmo. Mas que passa pelas duas experiências sabe a diferença. E a maioria dessas bandas, não tem o poder de domar uma massa, mas quem domina uma massa, toca em qualquer lugar.
Hoje em dia, só existe uma banda com canções para provocar esse tipo de catarse, O Radiohead, mais como Thom Yorke e companhia há muito desistiram de fazer hinos, dois de seus filhotes tomaram as rédeas; o Travis e o Coldplay.
Como o Travis faz um som mais britânico, mais Beatles que o Coldplay, eles ficaram presos a ilha da rainha e a seus festivais maravilhosos, enquanto seus compatriotas, cruzaram o atlântico, conquistaram os EUA e, devido a isso, começaram a vender bem no Brasil. Então, via funchal, setembro de 2003.
O show começa tão rápido, tão de repente, que demoramos um pouco para que a catarse aconteça. Já na primeira música, a pesada 'Politik', com batida marcada e piano hipnótico, já percebemos do que se trata. É uma show solo do vocalista/pianista/letrista/guitarrista/etc..., Chris Martin.
Ele pula, corre, rege o coral, faz sexo com seu piano, brinca com a pláteia, enfim... uma versão menor, mais jovem, menos messiânica e com bastante potencial, de Bono.
Ele pula, corre, rege o coral, faz sexo com seu piano, brinca com a pláteia, enfim... uma versão menor, mais jovem, menos messiânica e com bastante potencial, de Bono.
As músicas, com exceção de uma das melhores, 'God put a smile upon your face', que Chris fez uma brincadeira muito legal, mesmo que óbvia, com a letra, dizendo que 'Deus nos deu Pelé e Ronaldo', não são para pular, para soltar demônios, e sim, para cantar junto, para a catarse coletiva. Só não conseguem mais, na minha opinião, devido as letras de aulinha de inglês. Ainda muito pouco introspectivas para o tipo de som.
Recheando o show com b-sides (algumas inclusive, confesso que não soube dizer se são covers ou canções novas), com uma iluminação fantástica para padrões de show em casas fechadas e, a já citada presença de palco do vocalista, que transforma os outros integrantes em completos coadjuvantes, fazem do concerto uma celebração pop com subidas e descidas de um tobogã de emoções rasas, porém ainda, únicas.
O exemplo dado no início do texto, com os corais do público, foram sentidos em quase todas as músicas conhecidas, e até algumas menos conhecidas.
É de arrepiar ver seis mil pessoas gritando até os agudos em "Trouble", "Yellow", "The Scientist", "Shiver" e na "Let it be" do novo milênio, "Everything's not lost", com corinho tipo 'agora, só os meninos', 'agora, só as meninas'.
Mas, musicalmente e climaticamente falando, os pontoas altos foram "A Rush Of Blood To The Head", talvez, a melhor música da banda e a transcendental "Clocks", que contou com a melhor sacada tecnológica do show, com um canhão de raio laser que criava uma espécie de céu, com nuvens passando rápido, sobre o vocalista, deixando o show com cara de videoclipe. Muito, mas muito inspirado mesmo. Uma felicidade absurda. Mais uma aula das turnês do U2; Se você não tem uma banda inteira que preencha os espaços do palco, compense com um espetáculo que transforme espaço numa TV.
Depois de 3 voltas ao palco, visivelmente emocionados com a recepção totalmente de adoração recebida em São Paulo, fecharam com "Amsterdam", mais uma melodia para botar sorriso na cara de cada um dos presentes.
Quem não foi, mais uma razão para se arrepender; Banda no auge da popularidade, vir ao Brasil, em show solo, é de vez em nunca.
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