Discoteca Básica; 'It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back', Public Enemy (1988)



Discoteca Básica; 'It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back', Public Enemy (1988)


Lançado há dez anos, este disco provocou a mesma revolução social que os Racionais MC's fazem hoje no Brasil. Se o adolescente branco de classe média alta se encanta com as afirmações de negritude de Mano Brown, o jovem americano da época conheceu - e aprovou - as perigosas teorias separatistas de líderes negros, como Malcolm X e Louis Farrakhan.


A opção pelo politicamente incorreto, porém, não tira os méritos de It Takes A Natíon Df Millions To Hold Us Back, de longe o melhor trabalho do Public Enemy. É também o disco-chave do rap americano, então restrito a engraçados relatos do dia-a-dia (uma das poucas exceções foi "The Message", hit de 1980 do rapper Grandmaster Flash). It Takes ... prega a supremacia da raça negra e aponta inimigos entre os programadores de rádio e a mídia.

As sementes do Public Enemy estão na Universidade de Adelphi, em Long Island. Foi ali que Carlton Ridenhour, estudante de desenho gráfico e disc jóquei amador, conheceu os também estudantes Hank Shocklee (depois cabeça da Bomb Squad, equipe de produção do PE) e Bill Stephney (hoje executivo da Def Jam). Os três apresentavam um programa de rádio em que trocavam idéias sobre filosofia, política e cantavam rap. Uma dessas composições, "Public Enemy Nº 1 ", chamou a atenção do produtor Rick Rubin, que levou o trio para seu selo Def Jam.

A trupe formou uma estrutura com leis e regras próprias, com Chuck D, no rap; Shocklee assumia o papel de empresário e Stepheney se ocupou do marketing e da promoção. Ao grupo se juntaram o DJ Norman Rogers (batizado de Terminator X) e o rapper William Drayton, ou melhor, Flavour Flav, com dentes de ouro e um bordão imbatível: os “boyeeeeee que solta entre uma pancada e outra do DJ.

Considerado uma versão rap de What's Going On (clássico dos anos 70 do cantor Marvin Gaye), este é um disco repleto de batidas treme-terra ("Os radialistas não chamam rap de barulho? Então, tomem barulho", justificou o grupo). Terminator X sampleou mais de 150 composições alheias, numa lista que vai de Miles Davis e lsaac Hayes ao furioso grupo de heavy metal Slayer. 

As composições estão entre as melhores já produzidas: "Don't Believe The Hype", cujo refrão virou "a frase da moda" daquele ano; "Rebel Without A Pause", recado malcriado para as rádios que se recusavam a tocar rap; "Party For Your Right To Fight" (um trocadilho oportuno com "Fight For Your Right To Party", dos Beastie Boys, na época produzido por Rubin) denuncia a perseguição promovida pelo FBI a líderes negros e reafirma os nomes de Malcolm X e Farrakhan. 

O Public Enemy sucumbiria anos mais tarde, após discos fracos e cada vez menos populares. Flav foi preso por porte de crack e o grupo perdeu terreno para o rap bandido, que preferia glorificar dinheiro e violência. Mas It Takes A Nation Of Míllions To Hold Us Back permanece intacto, melhor do que qualquer coisa feita por Puff Daddy e congêneres. 


Sérgio Martins (Revista Bizz, edição 156, Julho de 1998) 

Tracklist;


1. Countdown To Armageddon2. Bring The Noise
3. Don’t Believe The Hype
4. Cold Lampin’ With Flavor
5. Terminator X To The Edge Of Panic
6. Mind Terrorist
7. Louder Than A Bomb
8. Caught, Can We Get A Witness?
9. Show ‘Em Whatcha Got
10. She Watch Channel Zero?!
11. Night Of The Living Baseheads
12. Black Steel In The Hour of Chaos
13. Security Of The First World
14. Rebel Without A Pause
15. Prophets Of Rage16. Party For Your Right To Fight


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