O maravilhoso mundo das capas de disco; 'The Joshua Tree, U2 (1987)


O maravilhoso mundo das capas de disco; 'The Joshua Tree, U2 (1987)
Foto e design por Anton Corbijn e Steve Averill
(Texto retirado da biografia 'U2 by U2' de Neil McCormick)
Edge: A ideia da capa do álbum veio do imaginário, e da locação cinemática das gravações. Seria correto seguir a música e as letras para o espaço no qual nós tentávamos idealizar e tirar as fotos da nossa capa no deserto. Então nós conversamos com Anton acerca de vários desertos diferentes e nos pareceu óbvia a idéia de que deveria ser em algum deserto dos Estados Unidos. Então o Anton (Corbijn, fotógrafo) foi para lá, a fim de procurar por locações.
Adam: O álbum não estava terminado, e estávamos um pouco pressionados diante disso. Nós viajamos para Los Angeles e nos dirigimos até o Deserto Mojave em um ônibus com Anton, Steve Averill e dois membros de nossa equipe. Nós fomos ao deserto algumas vezes, ficando em pequenos motéis*, e Anton tirando fotos. Aqueles foram dias longos.
Larry: Aquela fora uma verdadeira viagem pela estrada – certamente, foi uma aula para mim. A América que eu conhecia antes disso era aquela que eu via através dos ônibus, viajando de concerto a concerto, de cidade em cidade. Eu gostava disso, mas eu sabia que havia outra América ali, a América dos filmes antigos, do deserto, dos cowboys e de todas aquelas coisas legais. Então, ali estávamos nós, viajando pelo Deserto Mojave, passando pelas velhas cidades das minas de ouro que foram abandonadas por centenas de anos, parando em frente ao Zabriskie Point e descobrindo a magnitude e a grandeza da América. Havia somente espaços abertos, nenhuma placa de restaurante fast-food. Foi maravilhoso.
Edge: Nós dirigimos até o norte perto de São Francisco, onde encontramos uma cidade fantasma chamada Bodie, e ao sul em direção a Death Valley (Vale da Morte), encontramos Zabriskie Point, e muitos outros lugares menores pelo caminho. Durante uma caminhada entre duas locações nós começamos a conversar sobre diversas plantas e perguntamos ao motorista: “O que são aqueles cactos estranhos que estamos vendo o tempo todo?” Ele disse: “Elas são Joshua Trees (árvores de Josué). Acho que foi Bono quem disse: “É um nome muito interessante. “Vamos tirar algumas fotos com a Joshua Tree.” Foi tudo muito espontâneo. Nós continuamos andando pela estrada até que vimos uma grande encosta aberta com essas plantas de aparência pré-histórica. Nós saímos do ônibus, descemos até lá, Anton encontrou uma árvore boa e “click”, “click”. Nós tiramos fotos por cerca de 20 minutos, voltamos ao ônibus e prosseguimos caminho.
Larry: Eu me lembro do Anton dizer: “Oh, ali está a Yoshua Tree.” Ele não conseguia pronunciar o “J”. Então nós ficamos lá tirando fotos perto da Yoshua Tree. Nós queríamos rir, mas Anton ficaria muito irritado se as pessoas rissem, ou se até sorrissem. Foi tudo muito engraçado, ao contrário do que se nota através das expressões faciais na capa do álbum.


Edge: As pessoas ainda se lembram claramente da nossa imagem com aquela Joshua Tree, mas não foi, como muita gente pensou, uma alusão ao Gram Parsons e ao Joshua Tree Monument Park, que é bem próximo a Los Angeles. Foi somente uma referência a todo aquele deserto no sudoeste e à experiência de se estar lá. O deserto é um lugar de transição. Não tem certo ou errado, nem qualquer outro tipo de personalidade forte. Para nós, foi como uma grande jornada por aquele solo neutro para chegarmos onde estávamos indo. Os nomes desses lugares foram dados por pessoas dentro de carroças cobertas literalmente se dirigindo ao oeste, passando pelo Death Valley, suportando o verdadeiro inferno para chegar à terra prometida. Truth or Consequence, Hawkmoon, Telluride, o que seria “passeio ao inferno”, Yank Blade, Death Valley, Junction, ou até o engraçado “Whisky Town”. Você podia sentir a história e a luta que esses lugares testemunharam.
Adam: A aparência que a banda estava optando ter era a de um imigrante europeu deslocado chegando ao deserto. Quando você chega ao Death Valley, você imagina o que foi aquilo que levou pessoas a viajarem do leste ao oeste sem ter a real certeza do que eles iriam encontrar do outro lado. Não havia garantia de que eles fossem encontrar terra habitável, mas eles continuaram e finalmente encontraram a Califórnia.
Larry: Havia um relacionamento de amor e ódio com a América. Grande parte desse álbum refletiu os sentimentos de Bono ao voltar de El Salvador e da turnê Conspiracy of Hope, e ver a face brutal da política externa dos Estados Unidos. Mas dar ao álbum o nome de “The Joshua Tree” foi de certa forma um reconhecimento da influência que a cultura americana exerceu no U2. A América estava nos causando um impacto maior do que pensávamos que fosse causar. Vindo da Irlanda, o único show na cidade era aquele que estava acontecendo na América. Lá não era somente o maior mercado de vendas de discos, mas também o maior mercado turístico. A América era o centro do mundo e nós estávamos sendo bem sucedidos lá, e isso era o que queríamos mais do que qualquer outra coisa. A América nos abraçou de uma forma que nós nunca esperávamos. Então o título honrou isso, de certo modo. Para mim, isso representou o outro lado da América – o espaço aberto, a liberdade, o que a América representava. Não é uma metáfora, tão pouco um conceito. É um tipo de tributo. Não foi como se a gente tivesse ido procurar pela Joshua Tree. A Joshua Tree veio nos procurar.
Edge: Eu acho que nós sabíamos que tínhamos algo muito especial. Houve um determinado momento em que tudo estava fazendo sentido, quando a música pareceu vir do nada. Não tinha referência alguma com nada que estava acontecendo nos Anos 80. Parecia estar surgindo do chão. A banda também aparentava diferente de tudo o que estava acontecendo. Nós não chegamos a projetar nosso estilo, nós só estávamos tentando encontrar roupas que fossem sutilmente neutras e que fossem apropriadas ao álbum e à imagem daquilo que estávamos tocando – não era um look. Havia certa simplicidade no estilo. Eu comecei a usar um chapéu a partir daí, o que também cobriu cabeças de uma multidão.
Adam: Nós definitivamente pensamos que tínhamos feito um álbum que foi para um lugar onde os outros não foram. Foi uma época empolgante.

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