Discoteca Básica; 'Master of Puppets', Metallica (1986)



Discoteca Básica; 'Master of Puppets', Metallica (1986)


No começo dos anos 80 o heavy metal sofreu uma de suas maiores mudanças. Enquanto os grandes nomes da época (Iron Maiden, Judas Priest, Ozzy Osbourne etc.) inflavam o imaginário dos fãs com letras cheias de fantasia, músicos metidos em calças de lycra coloridas e palcos repletos de sacanagens cenográficas, uns malucos da costa oeste americana começaram a se destacar no underground, trazendo o gênero para o mundo real.


O figurino carnavalesco foi trocado pela roupa detonada do dia-a-dia: calça jeans colada ao corpo, camiseta de banda e tênis cano alto (fodidos e emendados com silver-tape). O discurso começou a mostrar preocupações sociais. Trocando em miúdos, desapareceu a distância que existia entre o palco e platéia. Herdados do punk rock, o mosh e o stage-dive passaram a virar costumes de lei nos pequenos clubes que acolheram a então nova geração de bandas.

O Metallica foi o grupo que mais se destacou nessa leva. Inovador desde sua primeira demo-tape (ainda com o guitarrista Dave Mustaine, hoje líder do Megadeth), o grupo estreou em disco com Kill Em’ All (1983). Nele, o Metallica acelerou as batidas, valorizou o trabalho das guitarras e tornou-se mais agressivo - não confundir com barulhento. Inicialmente, essa mistura foi classificada como speed metal. Mas pouco depois surgiu a expressão thrash metal, batizando o gênero que fez o heavy metal deixar de ser coisa de nerd pregossauro.

Três anos se passaram, o movimento migrou da Califórnia para a Europa e, quando deu pinta de que havia inovado o suficiente, veio Master Of Puppets. Aí, a coisa saiu de controle. Nunca tinha se ouvido sons assim. Os metaleiros - termo inventado pela repórter Glória Maria, da TV Globo, durante a cobertura do Rock In Rio, em 1985 - não acreditaram no que ouviram. Pesadas ao extremo, com um timbre grave, porém limpo, as guitarras formavam uma massa sonora impressionante (ouça a faixa "Disposable Heroes").

A partir daí, praticamente TODOS os guitarristas de metal tentaram chegar ao som que o Metallica tirou. Foram criadas várias lendas a respeito de como tirar um som parecido no estúdio - teve gente que chegou até a microfonar os amplificadores pela parte de trás. Até que descobriram o óbvio ululante: o segredo não estava no equipamento, nem em como utilizá-lo, mas sim na palhetada. Como dizem os guitarristas, na "mão direita". Master Of Puppets foi um divisor de águas. O Metallica aprimorou o estilo mostrado nos álbuns anteriores, com músicas mais trabalhadas, cheias de variantes. As melodias ficaram ainda mais marcantes e o grupo colocou um pezinho no mainstream. Agradava a gregos e troianos. Gente que gostava de metal tradicional, os radicais que só ouviam esporro e - principalmente - os que não curtiam metal passaram a consumir o som da banda.

Embora o Metallica tenha mais tarde ficado ainda muito maior, o thrash metal viveu  seu melhor momento ali. O underground ferveu (nada a ver com a boiolice clubber) e novas bandas, clubes e festivais pipocaram no mundo inteiro.   



Robert Halfoun (Revista Bizz, Edição 147, Outubro de 1997) 

Tracklist;


00:00 - Battery
5:14 - Master of puppets
13:50-The Thing That Shold Not Be
20:26 - Welcome home(Sanitarium)
26:53 - Disposable heroes
35:09 - Leper Messiah
40:51 - Orion


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