Música + Livros + Cinema; 'Vale Tudo ; O Som e a Fúria de Tim Maia', de Nelson Motta


Música + Livros + Cinema; 'Vale Tudo ; O Som e a Fúria de Tim Maia', de Nelson Motta 

O livro;

Quase tão fulminante quanto o biografado, Nelson Motta fez um relato minucioso em parágrafos curtos em seu livro Vale Tudo, mostrando a história de Tim Maia através de suas loucuras, perrengues, inovações musicais, desilusões amorosas, jornadas alucinógenas, além de muitos, muitos processos.
Ainda que seja uma biografia de fácil leitura, o autor não entra em detalhes minuciosos dos períodos sombrios do cantor, como quando ele morou um bom tempo nos Estados Unidos antes de estourar no Brasil ou por que acabou retornando de uma hora para outra para a vida de loucuras após descobrir a farsa que culminaria na sua fase careta de Racional.
Analisando bem, é possível ter muitos momentos de riso com aquelas histórias que todos nós gostaríamos de colecionar para escrevermos nossa própria autobiografia. Uma delas: certa noite, Tim Maia estava chapado após doses exageradas de whisky. Quando acordou no seu apartamento, viu que tinha um desconhecido e já gritou: ‘quem é esse viadinho aí?’. O rapaz estava dormindo, então Tim decidiu aprontar. Se vestiu como um pai de santo e começou a gritar a rodo que recebeu uma mensagem falando sobre o ‘pai papacu’ que ia torar o rapaz. Sem entender nada, é lógico, o rapaz saiu correndo feito louco.
Outra: no início dos anos 1990, Tim Maia tinha fechado um contrato de exclusividade com a Brahma, que lhe renderia uma maratona de 50 shows por um ótimo cachê. Ele estava precisando desse dinheiro, já que vivia em guerra com processos que nunca comparecia, além de conflitos com direitos autorais. Logo no primeiro show, bateu uma ‘crise de sinceridade’ (como define Motta) e Tim disse à plateia que não gostava de cerveja; era fã mesmo de um Guaraná Antarctica bem gelado. Se por um lado isso encerrou sua maratona, por outra lhe rendeu bons cachês como garoto-propaganda da marca rival.
Uma característica que fica bem perceptível quando se lê Vale Tudo é a teimosia do cantor: ele só fazia aquilo que queria e quando podia. Faltava a rodo em seus shows sempre que estava bêbado demais, o que não o impedia de cometer certas gafes. Eram raras as apresentações em que ele estava de bom humor e tocava sem xingar o técnico de som ou algum instrumentista da banda. Dessas noites intensas, Tim Maia chamava de triatlo: uma combinação nada pomposa de doses de whisky, maconha e cocaína.
Sobre a sua discografia, Nelson Motta explica os trambiques das gravadoras, que levaram Tim a criar a Seroma. Dos grandes registros do cantor tijucano, ele lamenta que discos inspirados – como Nuvens, de 1982 – não estouraram. O próprio Tim Maia também não entendia por que o público não aceitava tão bem suas composições em inglês, como os discos Tim Maia (1978) ou What A Wonderful World (1997).
Loucuras à parte, Tim Maia foi um dos maiores intérpretes que o Brasil já teve, além de ter sido o responsável por criar a black music brasileira. Foi ele quem deu todo gingado à soul music brazuca, mesmo com canções sobre ‘cornologia’ ou ‘mela-cueca esquenta-sovaco’, como ele mesmo gostava de reiterar. Infelizmente, ele faleceu em 1998 aos 55 anos depois de uma infecção generalizada.
Músicas como “Sossego”, “O Descobridor de Sete Mares”, “Me Dê Motivo”, “A Festa”, “Bom Senso”, “Do Leme ao Pontal”, “Primavera”, “Azul da Cor do Mar” e uma infinidade de outras são essenciais e nostálgicas em qualquer baile dançante. Trazer toda essa essência festiva para uma linguagem literária é algo muito difícil de ser feito. Os parágrafos curtos, capítulos rápidos e o texto simples caracterizam bem como Tim Maia gostaria de ler a sua biografia. Se a intenção de Nelson Motta foi essa, o resultado foi positivo.
O Filme
Só tem um jeito de não gostar de Tim Maia: não conhecendo Tim Maia. Antes de virar o "O Rei do Soul do Brasil" ou "Síndico", Sebastião Rodrigues Maia (1942 - 1998) era apenas Tião da Marmita. Sua transformação em Tim Maia e algumas das mudanças que ele trouxe para a música brasileira estão presentes em Tim Maia (2014), cinebiografia dirigida e roteirizada por Mauro Lima (Meu Nome Não é JohnnyReis e Ratos) e que tem Robson Nunes Babu Santana dividindo o papel do protagonista na juventude e já na sua idade adulta.
A vida do cantor e compositor, tão famoso pelas suas músicas quanto pela sua fama de encrenqueiro e furão, é cinematográfica desde que começou, no Bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Fiel aos seus objetivos, ele sempre soube driblar os problemas (como a falta de dinheiro) e conseguir o que queria. E contar a sua história é também mostrar um trecho importantíssimo da música brasileira. Passam pelo filme figuras como Roberto Carlos (George Sauma), Erasmo Carlos (Tito Naville), Rita Lee (Renata Guida), Nara Leão (Mallu Magalhães) e Carlos Imperial (Luís Lobianco), além do dono da voz em off que narra tudo, Fábio (Cauã Reymond), músico que tocou por 30 anos ao lado de Tim Maia e acaba representando várias outras pessoas que em algum momento viveram (e sobreviveram) para contar história.

O roteiro de Mauro Lima se baseia no livro Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia, de Nelson Motta, mas também pega material de Até Parece Que Foi Sonho - Meus 30 Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia, de Fábio, além de entrevistas que o próprio cineasta e a roteirista Antônia Pellegrino fizeram com músicos e pessoas que foram próximas a Tim. Histórias não faltavam e, apesar das longas 2h20 de duração do filme, eles foram até que sucintos ao mostrar a infância dura, a descoberta da música na adolescência, a realização do sonho de morar nos Estados Unidos (onde teve seu contato com a soul music e o movimento negro - até ser preso e deportado), a insistente busca pelo sucesso musical, a mágoa com Roberto Carlos, o (enfim!) sucesso, as drogas que o sucesso proporcionaram e seu fim melancólico aos 55 anos.
O roteiro ainda acerta na hora em que coloca Tim compondo algumas de suas canções e escapa da tentação de transformar em diálogo estrofes de suas músicas - vício presente em várias cinebiográficas musicais. A reconstituição histórica das ruas e figurinos e o drama todo por que Tim Maia passou são apresentados de forma hollywoodiana. E se George Sauma pesa demais a mão na sua imitação de Roberto Carlos, tanto Robson quanto Babu acertam o tom - tanto o pessoal quanto o musical. Robson faz escada e constrói o personagem e deixa para Babu o trabalho de transformá-lo com o sucesso, as mulheres (condensadas no papel da linda Alinne Moraes), a religião, a bebida e as drogas. Na hora de cantar, há apenas uma cena em que a dublagem de Robson fica mais evidente, sobrando elogios para a forma como eles conseguiram mimetizar os trejeitos do cantor no palco.
A porralouquice do estilo de Tim Maia, seu humor e todo o folclore em torno do músico fazem o resto e ainda deixam de lição de casa a gostosa tarefa de ler mais, descobrir mais e ouvir mais suas músicas. E, assim, gostar ainda mais de Tim Maia.
O Trailer

A Trilha;

Tracklist;

[00:03] 01. Não Quero Dinheiro
[02:39] 02. Não Vou ficar (Roberto Carlos)

[05:35] 03. Azul da Cor do Mar

[09:16] 04. A Festa do Santo Reis

[12:03] 05. Quer Queira Quer não Queira

[16:59] 06. Ela Partiu

[21:49] 07. Lamento

[25:00] 08. Que Beleza

[29:07] 09. Sossego
[32:47] 10. Super Mundo Racional



Mais informações;

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