Discoteca Básica; 'Blow by Blow', Jeff Beck (1975)
Discoteca Básica; 'Blow by Blow', Jeff Beck (1975)
Até então,1975, Jeff Beck já havia emplacado uma obra-prima: Truth, álbum de estréia do Jeff Beck Group, de 1968, clássico do rock pesa¬do, com tonalidades psicodélicas. Na segunda metade dos anos 70, o "guitarrista dos guitarristas" (epíteto criado para designar a tremenda influência exercida por Beck entre aqueles que se dedicam ao instrumento) passou por uma tediosa fase jazz-rock ao se associar ao tecladista Jan Hammer e ao baterista Narada Michael Walden. Mas antes disso ele compôs outra obra-prima: Blow By Blow, disco que inaugurou seu "período instrumental".
Trata-se de um verdadeiro monumento à música bem tocada, em que se fundem idéias geniais de rock, jazz, soul e funk, perfeitamente combinadas pelo som único da guitarra de Jeft. Ele convocou para produzir o álbum George Martin, artífice das maravilhas beatles. Talvez por isso, a versão para "She's A Woman", de Lennon e McCartney, seja um dos momentos mais cativantes do disco. Sobre uma base puxada para o reggae, a guitarra "canta" o refrão, articulado pela voz de Jeff por meio de uma talk box (pedal com um tubo que conduz o som até a boca do instrumentista, onde é alterado pelos movimentos labiais).
Outros pontos se destacam: da abertura, com o funk rasgado de "It Doesn't Really Matter", até a faixa de encerramento - "Diamond Dust", com solos incríveis pontuados pelo arranjo de cordas feito por Martín -, Beck se entrega com fervor ora ao fraseado de jazz rock(“AIR Blower”,”Scatterbrain”),ora ao espírito da soul music – em duas canções de Stevie Wonder: "Cause We've Ended As Lovers" e "Thelonius". Sem contar o ritmo frenético imposto por "Freeway Jam", tema perfeito para ouvir no toca-discos de um carro, pegando uma auto-estrada.
Beck criou uma maneira de tocar inconfundível, expandindo os recursos da guitarra elétrica com solos precisos que aliam técnica e emoção, além de se utilizar como poucos dos efeitos e dos pedais para dar novas cores ao som do instrumento. E Blow By Blow ainda é uma prova cabal das peripécias que o cara é capaz de fazer com uma Gibson Les Paul nas mãos.
Celso Pucci (Revista Bizz, edição 158, Setembro de 1998)
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