Disco da Semana; Trilogia da Tristeza



Disco da Semana; Trilogia da tristeza

Ás vezes, mesmo que sejamos pessoas legais, comunicativas e com uma puta vida legal, as coisas só fazem sentido quando estamos a beira de jogarmos tudo para o alto. Amor, família, trabalho, amizade, enfim, todos os tipos de relacionamento humano que, muitas vezes, trazem a água nos olhos e o aperto no coração.


Hoje, vou falar sobre três trilhas sonoras perfeitas para noites solitárias, frio existecial e alma cinza.

Ouçam com cuidado.



"If You're Feeling Sinister", Belle And Sebastian, 1997

Já começando pela capa, onde vemos uma mulher com cara de 'pulo ou não pulo', ao lado de 'O Processo', de Franz Kafka, 'If You're Feeling Sinister', segundo e melhor disco do Belle & Sebastian é praticamente um livro. Um livro triste e feito para se chorar junto. Cantar também, mas sempre com uma lágrima no olho.

E a tristeza permeia todas as opiniões do disco. Desde de gracejos ao sistema da industria musical, como em 'Me and the Major', onde ouvimos que a 'geração joven cresce rápido, enquanto as outras tomavam muitas drogas', passando pela delicada 'The Fox In The Snow', com seu dedilhado que acalma e sua letra que desespera ("Quando suas pernas estão pretas e azuis, é hora de dar um tempo") até o 'pseudo hit' 'Get Me away From Here, I'm Dying', onde Stuart David, a voz mais melancólica desde Morrisey, sussurra que 'palavras são mais fortes que espadas, mas que com essas palavras só poderei te fazer chorar". Sniff, sniff...

Talvez seja o clima cinza da Escócia. Talvez sejam as escolas de arte, que deixam esse pessoal ler muita poesia deprimida. Ou até a falta do que fazer, mas, como elegância, bom humor e lindas letras, esse é um dos disco mais tristes da década. Passa rápido, mas é impossível pelo menos não se emocionar.

"Elis & Tom", Antonio Carlos Jobim e Elis Regina, 1974

Aqui, a coisa é mais séria. Quem disse que nós não tivemos a nossa Billie Holiday. A dramaticida da voz única de Elis Regina ,a incrível capacidade do mestre Tom Jobim em tocar melodias em tom menor e letras de Vinícius de Moraes e outros maníacos suícidas fazem deste, sem titubear, o disco mais triste feito no Brasil.

Mesmo em canções sem um pingo de tristeza, como 'Águas de março', 'Só Tinha De Ser Com Você' e 'Corcovado', onde a nostalgia é a maneira de tocar o ouvinte. É impossível não se emocionar. E a emoção nem começa se você só ouvir á estas músicas.

"Triste" e sua letra corta pulsos, "Inútil Paisagem", a música mais suicída que eu já ouvi em português ('...De que serve esta onda que quebra, e o vento da tarde. De que serve á tarde, Inútil Paisagem..." ) e, no título menos aterrorizante, mora uma interpretação que emociona até quem não chora nem em filme sobre judeus; 'Modinha', que termina com as lágrimas da própria Elis. Eu digo, é impossível não sentir pelo menos o coração saíndo pela boca.

Se você recentemente acabou o seu relacionamento, fuja. Não nos responsabilizamos pelo o quê pode acontecer.
"Portishead", Portishead, 1997

Imagine um clube esfumaçado. Um copo de vodka. Um cigarro e uma fossa emocional do tamanho de um elefante. Imaginou? Agora, ouça uma música como 'Undenied' e consiga sobreviver a ressaca e a depressão profunda. Último disco de estudio desse duo de Bristol, 'Portishead' é uma facada no coração atrás da outra. Sempre falando de amores não correspondidos, de fraquezas e de muita tristeza, o disco está aqui nessa lista por tudo isso. Mas, tudo isso só faz sentido devido a voz única e inesquecível de Beth Gibbons.

Muitas vezes confundida com Billie Holliday, sua nítida influência, Beth é quase uma atriz na arte de interpretar canções com atmosfera em preto e branco. Já na arte do disco, na contracapa, seu olhar distante deixa o clima jazzistico (presente além de em toda a arte, também é influência clara em todas as canções) pronto para uma noitada sozinho, á espera do telefone que nunca toca.

Se você conhece algo mais cool, criativo, triste, tocante e melhor concebido, me avise. Ficarei o mais longe possível. Por que? Porque demorei uns três anos pra conseguir não me emocionar profundamente ao ouvir esse disco. Cuidando ao entrar, talvez você não volte.

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