Música + Cinema; 'Whatever Happened, Miss Simone?' (2015), de Liz Garbus

Música + Cinema; 'Whatever Happened, Miss Simone?' (2015), de Liz Garbus 

Nina Simone
 foi uma das artistas mais poderosas e influentes da sua época, mas, ao mesmo tempo, era uma pessoa comum como eu e você: com dúvidas, inseguranças, incertezas e frustrações.
É exatamente este lado humano que o documentário What Happened, Miss Simone?, dirigido por Liz Garbos, produzido pelo Netflix e disponibilizado para seus assinantes nesse final de semana, aborda com tanto respeito.
Com relatos de seu ex-marido, sua filha, amigos de banda e de vida, o documentário narra a vida de Nina desde sua infância pobre na Carolina do Norte – quando ainda se chamava Eunice Waylon – a ascensão e queda de sua carreira na década de 60, até o fim de sua vida na França. O retrato é de uma artista brilhante, inteligente, criativa e altamente sensível a tudo que acontecia a sua volta.
Nina Simone era conhecida por ser uma mulher independente, decidida e de pulso firme, com uma personalidade marcante quando estava em cima do palco, mas principalmente quando estava fora dele.
Quando criança, aprendeu a tocar piano aos 3 anos de idade e tocava na igreja onde sua mãe era pastora. Incentivada por duas mulheres brancas – a patroa de sua mãe e uma professora de piano – a jovem Eunice investiu em aulas de piano clássico e se apaixonou pelas obras de Bach, Debussy e Beethoven, as quais tocava com perfeição e disciplina. Era uma jovem empenhada em aprender e dar o melhor de si, pois queria ser a primeira pianista clássica negra da história.



As curvas da vida – e o grande preconceito racial da época – fizeram com que Eunice assumisse uma nova persona – 
Nina Simone – para tocar nos bares da cidade e ganhar algum dinheiro para sustentar sua família. Longe de poder tocar a música clássica que tanto amava, Nina se viu forçada a tocar música popular e a cantar para agradar a clientela, trabalhando longas e exaustivas horas.
Some-se a isso uma sociedade completamente dividida pelo preconceito racial na década de 60, um mercado fonográfico seletivo e exigente, um marido abusivo e uma vontade explosiva de fazer alguma coisa para sair desta condição. Havia algo que fazia com que a Sacerdotiza do Soul não se encaixasse nesse mundo.Um dos pontos mais enfatizados no documentário é o relacionamento de Nina Simone com o seu trabalho e o quanto ele consumia uma parte considerável de sua vida. Na verdade, não havia distinção entre seu trabalho e sua vida particular – ou até mesmo social. Nina casou-se com um homem poderoso que se tornou seu agente e colocava o trabalho sempre em primeiro lugar. Mesmo cercada de pessoas interessantes e podendo usufruir dos prazeres da vida, Nina Simone era uma mulher que vivia para o trabalho – um trabalho que foi mais um acidente de percurso do que um planejamento consciente: a frustração por não ter se tornado a primeira pianista clássica negra da história ainda lhe assombrava e dominava todas as suas frustrações com o universo em que vivia.
No ápice da luta pelo fim da segregação racial, comandada por nomes como Malcolm X e Martin Luther King, Nina sentiu-se na obrigação de abraçar a causa com toda a intensidade de seu coração, como uma forma de inspirar seus companheiros negros – e de se libertar das amarras de sua vida. A causa parecia tocar fundo nas insatisfações de Nina – e não tinha como ser diferente. Deixando as músicas românticas de lado – como a celebrada I Loves You, Porgy – o foco de seus shows eram as composições de forte cunho político, como a polêmica Mississippi Goddam e Ain’t Got No… I’ve Got Life, o que elevou a cantora ao status de porta voz de toda uma geração de afro-americanos que lutavam por direitos civis igualitários.Ao mesmo tempo, o tom violento de seus discursos ativistas fez com que Simone fosse naturalmente afastada da mídia convencional. A coragem de Nina Simone em imprimir questões tão delicadas de forma tão explícita em suas canções-protesto foi essencial para que o empoderamento de uma legião que fazia parte do movimento negro nos Estados Unidos.
Mais uma vez, a personalidade forte de Nina Simone – intensificada por um transtorno bipolar tardiamente diagnosticado – e a incansável insatisfação com todos os aspectos de sua vida levou a Sacerdotisa do Soul a abandonar os palcos, abandonar o país e seguir sua vida na Europa, onde retomou sua carreira no final da década de 70 e onde permaneceu até o fim da sua vida em 2003, quando faleceu após lutar contra o câncer de mama.
What Happened, Miss Simone? é um documentário obrigatório, não apenas para quem gosta de música e se interessa pela trajetória de uma das mulheres mais relevantes da história política e musical dos anos 60, mas também para revelar todo o brilhantismo e sensibilidade de uma artista perseguida por seus próprios medos e fantasmas, mas que teve a coragem de enfrentar de peito aberto os preconceitos de sua época e os opressores de sua vida, em busca da liberdade que tanto desejava.
O Trailer;


A Trilha;

Para celebrar o documentário, foi lançado o álbum 'Nina Revisited', com várias versões de canções dela. Confira o tracklist e o álbum;


01. Lisa Simone – “Nobody’s Fault but Mine (Intro)”
02. Lauryn Hill – “Feeling Good”

03. Lauryn Hill – “I’ve Got Life”
04. Ms. Lauryn Hill – “Ne Me Quitte Pas”
05. Jazmine Sullivan – “Baltimore”
06. Grace – “Love Me Or Leave Me”
07. Usher – “My Baby Just Cares For Me”
08. Mary J. Blige – “Don’t Let Me Be Misunderstood”
09. Gregory Porter – “Sinnerman”
10. Common & Lalah Hathaway – “YG&B”
11. Alice Smith – “I Put A Spell On You”
12. Lisa Simone – “I Want A Little Sugar In My Bowl”
13. Lauryn Hill – “Black Is The Color Of My True Love’s Hair”
14. Lauryn Hill – “Wild Is The Wind”
15. Lauryn Hill – “African Mailman”
16. Nina Simone – “I Wish I Knew How It Would Feel To Be Free”





Mais informações;

https://en.wikipedia.org/wiki/What_Happened,_Miss_Simone%3F

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