Disco da Semana; 'Songs of Innocence", U2 (2014)



Disco da Semana; 'Songs of Innocence", U2 (2014)

Ame ou odeie...

O U2 é um ícone musical relevante mesmo em tempos que ícones músicais não fazem necessariamente música. Uma banda 'a moda antiga', de quatro caras atrás de melodias perfeitas. É claro que com o passar dos anos, elas vão rareando, e nesse novo trabalho de estúdio, 'Songs of Innocence', elas se tornaram quase que uma obsessão.

Sucedendo o artisticamente interessante e contextualmente esquecido 'No Line On The Horizon', de 2009, onde conceitos e singles não combinaram, esse álbum chamou para si uma responsabilidade que a própria banda tem certeza ser quase impossível de superar; Trazê-los para esse novo mundo contemporâneo da música Pop, sem deixá-los com cara de senhoras de meia idade cheias de botox no rosto.

O primeiro passo nessa tentativa foi deixarem seu famoso trio de produtores para trás e trazer sangue novo, exatamente como no injustiçadamente abandonado 'Pop', que quase matou a carreira da banda em 1997. No lugar de Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite, Bono e Cia. optaram inicialmente por Danger Mouse (Gnarls Barkley, Black Keys e Norah Jones) e, logo após, chamaram Paul Epsworth (Adele) e Ryan Tedder (todo o pop descartável americano da última década e vocalista da desprezível banda One Republic) para 'arredondar' o som, que nitidamente, está diferente nas duas canções lançadas pela banda no início do ano, 'Ordinary Love' e 'Invisible'. O resultado? Bem...

O disco acerta e erra. Há boas ideias e boas canções, algumas salvas pelos engenheiros de som Declan Gaffney e o parceiro de longa data Flood (que trabalha com a banda desde o álbum 'The Joshua Tree', de 1987), mas o excesso de produção e a vontade de ganhar dos seus discípulos no novo Rock de arena tornou o disco aceitável, porem esquecível. Bem, como a música Pop o é, afinal.

 
O disco é temático. Ou 'meta-temático', já que revisita as histórias da banda em suas letras. Temas relativamente batidos, já que há mais de trinta anos, ouvimos Bono falando dos atentados na Irlanda do Norte, da morte da mãe e do amor a sua esposa. Dessa vez, dá pra sentir uma (perdão no trocadilho) inocência perdida. Como quando se quer resgatar algo que há muito se foi. 

Mesmo quando quer ser mais desafiador, como na sua fase mais eletrônica e Europeia nos anos noventa, a chamada 'fórmula U2' está sempre lá; Os vocais grandiloquentes de Bono; a cozinha segura e simples de Larry e Adam; E os riffs climáticos de Edge. E as melhores faixas do disco são as que essas caractrísticas se apresentam mais; 'Raised by Wolves', 'Cedarwood Road', a dançante 'Volcano' e as antêmica 'Iris (Hold Me Close)' e 'Every Breaking Wave'. Até na semi-eletrônica e sexy 'Sleep Like a Baby Tonight' consegue fazer-nos lembrar de algo que sentimos falta. Outra boa surpresa é 'The Troubles', talvez o grande momento 'novidade' do disco, cantada em dueto com a sueca Lykke Li.

A grande questão que fica é que a banda, e em especial Bono, desistiu, pelo menos aparentemente, de se desafiar em termos de sonoridade e aceitou que o seu maior objetivo é se manter relevante, que em seus conceitos, significa estar ao lado dos artistas que formam o panteão da música Pop atual. Renovar seu público. Não há nada de errado nisso. Não há nenhum problema em querer que sua música faça sentido para todas as idades. Manter velhos fãs e ganhar novos é a essência da música e o que mantêm muitos artistas vivos. Mas é, nessa altura da carreira, necessário?

É admirável que eles ainda queiram briga. Que ainda aguentem alguns socos. Mas sabemos que o público hoje é outro e alguns dos truques não podem ser simplesmente repetidos. É curioso pelo menos assistir a autoproclamada 'maior banda do mundo' ainda colocar seu coração e sua reputação em um punhado de canções Pop ao invés de simplesmente aceitar seu papel como atração de estádios, repetindo sucessos usando a nova tecnologia do momento como cenário. O que, no final das contas, é o que eles irão fazer nos próximos dois anos. Confesso que preferia vê-los simplesmente aceitando o envelhecimento e se divertindo com a coisa toda, como Bruce Springsteen, Elvis Costello ou até o Pearl Jam fazem.

O que fica desse trabalho, que deve sucedido por um disco-irmão, 'Songs of Experience' até o ano que vêm, é que o U2 ainda sabe fazer um disco divertido, pessoal e com canções com potencial para fazerem sentido em grandes arenas. E é isso que, em diferentes níveis, eles sempre fizeram.

Afinal, ame ou odeie.

Tracklist

01. 'The Miracle (Of Joey Ramone)'
02. 'Every Breaking Wave'
03. 'California (There Is No End To Love)'
04. 'Song for Someone'
05. 'Iris (Hold Me Close)'
06. 'Volcano'
07. 'Raised by Wolves'
08. 'Cedarwood Road'
09. 'Sleep Like a Baby Tonight'
10. 'This Is Where You Can Reach Me Now'
11. 'The Troubles'




Mais informações; 

 en.wikipedia.org/wiki/Songs_of_Innocence_(album)

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