Disco da Semana; 'Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit', Courtney Barnett (2015)



Disco da Semana; 'Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit', Courtney Barnett (2015)

O ano é 1995. No campo da música, o grunge dá seus últimos suspiros, deixando o caminho livre para o duelo “pomposo” do Britpop entre Blur e Oasis. Depois de meia década de “domínio masculino” dentro das rádios, programação da MTV e revistas de música, um time de vozes femininas – inspiradas por PJ Harvey, Kim Deal e Liz Phair – começaram a ocupar território. De Alanis Morissette ao trabalho da islandesa (e já veterana) Björk, dos gritos de Gwen Stefani no No Doubt aos berros de Shirley Manson na estreia do Garbage, há 20 anos, todos os holofotes se voltaram para elas.

Curioso perceber que mesmo passadas duas décadas desde a explosão de novos representantes do “rock feminino”, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, estreia solo da australiana Courtney Barnett, ainda preserva parte da mesma essência de músicas lançadas durante o período. Versos temperados com sarcasmo, guitarras tratadas com euforia, além de um universo de temas tão joviais e descomplicados, que Barnett parece até cantar sobre o cotidiano do espectador.

Passo além em relação ao material apresentado em The Double EP: A Sea of Split Peas, de 2013, a estreia solo de Courtney Barnett se liberta de possíveis amarras para flutuar em um plano leve, como uma transcrição de pensamentos recentes da artista. Em se tratando dos arranjos, a maior liberdade na construção das bases, com guitarras potencialmente dinâmicas, quase dançantes, além da exposição de vocais limpos, como se a cantora buscasse se aproximar de toda uma nova parcela do público. Não por acaso o ambiente “Lo-Fi” de músicas já conhecidas como Out of the Woodwork e Avant Gardener parece esquecido, aproximando o disco de todo um novo jogo de essências.

Habitante do mesmo ambiente temático de Katie Crutchfield (Waxahatchee), Sadie Dupuis (Speedy Ortiz), Mackenzie Scott (Torres) e diferentes “herdeiras” da música lançada no meio dos anos 1990, Barnett, está longe de produzir um som referencial e copioso. Musicalmente, a semelhança com a obra de Liz Phair, Pavement e outros gigantes do rock alternativo é inevitável, entretanto, basta se concentrar nos versos da cantora, capaz de brincar com a própria timidez (Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party) e metáforas sobre a morte (Dead Fox), para perceber que ela não depende de nenhum nome ou ponto específico de referência.

De fato, quando comparada a outros artistas próximos, compositores partidários da mesma essência musical, Barnett assume um caminho particular, totalmente isolado. Salve a articulação melódica em faixas como Pedestrian at Best, quem espera por uma obra de refrão e versos imediatos talvez deva abandonar o registro. Ainda que não seja um trabalho complexo, capaz de barrar o ouvinte desatento, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit está longe de parecer um disco fácil. Há algo de descritivo na montagem das canções, como um resumo dos principais tormentos (An Illustration of Loneliness) e cenas particulares (Aqua Profunda!) que ilustram o cotidiano da artista.

Eu não sei bem quem eu sou, mas cara, eu estou tentando / Cometo erros até acertar”, despeja a Barnett em Small Poppies, uma rápida visita ao plano torto que ocupa a mente da cantora, tão acomodada dentro de um universo particular e restrito, quanto íntima dos tormentos diários de qualquer jovem adulto. Da faixa de abertura ao verso final, discussões sobre a vida noturna, relacionamentos tediosos ou a simples incapacidade de conviver em sociedade abastecem os versos do disco, revelando uma obra capaz de dosar seriedade e ironia sem exageros.


Tracklist;

1. Elevator Operator

2. Pedestrian At Best

3. An Illustration Of Loneliness (Sleepless in New York)

4. Small Poppies
5. Depreston
6. Aqua Profunda!
7. Dead Fox
8. Nobody Really Cares if You Don't Go To The Party
9. Debbie Downer
10. Kim's Caravan
11. Boxing Day Blues



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