Discoteca Básica; 'Low', David Bowie (1977)
Discoteca Básica; 'Low', David Bowie (1977)
"Low", lançado em 14 de janeiro de 1977, foi o primeiro disco da famosa "Trilogia de Berlim" que David Bowie fez em colaboração com Brian Eno e Robert Fripp, ex-membros do Roxy Music e King Crimson respectivamente. Os outros dois álbums são "Heroes", também lançado em 1977, e "Lodger", de 1979.
O ano levante punk, 1977, foi fundamental para a história do rock. Mas
David Bowie já pressentia, quatro anos antes dessa subversão explosiva,
os sintomas da estagnação. Foi quando trocou a Inglaterra - onde reinava
absoluto - pela América.
Bowie chegou à América dando entrevistas nas quais chamou o rock de
"música de gente burra". Anunciou sua adesão à carreira de ator e à soul
music "plastificada" do sul dos Estados Unidos. Acabou sendo, portanto,
um precursor da discothèque.
Depois de dois anos do lado de cá do Atlântico, ele faz as malas e
parte para Berlim, fechando o ciclo "Bowie in America". No ciclo, fatura
o famigerado prêmio Grammy (concedido ao melhor da indústria
fonográfica americana) com "Fame", faz o papel principal do filme "O
Homem que Caiu na Terra" e gravou "Station to Station", LP descrito por
Allan Jones, do "Melody Maker", como o "mais revolucionário da década".
Só que, como escreveu uma vez Ezequiel Neves, cada década tem pelo menos
quarenta anos para os críticos ingleses. Ele tinha razão.
Revolucionário mesmo foi "Low", cuja capa - uma foto do "O Homem que
Caiu na Terra" - já insinua o tema central das poucas e curtas letras
do disco. É só somar "low" ao perfil de Bowie e temos "low profile"
(baixo perfil), uma expressão inglesa para pessoas que procuram aparecer
o menos possível.
O tema é, claro, o exílio voluntário em Berlim. O universo, quase
sempre o espaço entre quatro paredes: "Azul, elétrico azul/ é a cor do
quarto onde vou viver/ venezianas fechadas o dia todo/ nada para ler,
nada para dizer/ vou me sentar e esperar pelo dom de som e visão" (em
"Sound and Vision").
Seu domínio criativo da parafernália dos estúdios de gravação - em
função da qual a música é composta - deixa Bowie fascinado. Falando
sobre o famoso lado 2 de "Low", povoado exclusivamente por faixas
instrumentais, ele diria: "Essas músicas são mais uma observação, em
termos musicais, de como eu via o Bloco Oriental. Era algo que não podia
expressar em palavras. O que precisava era de texturas, e de todas as
pessoas que eu já ouvi compor texturas, as de Brian Eno eram as que mais
me agradavam."
Dito e feito. Descritas como um "deserto futurista congelado por
sintetizadores", estas texturas foram tão imitadas que viraram o gênero
batizado de cold wave (espécie de tecnopop mais cerebral ou meditativo e
desacelerado). São também a semente para outro "disco básico": "Closer"
(80), do Joy Division. Uma banda que, no berço, levava o nome de Warsaw
- extraído de 'Warzawa", que abre o lado 2 de "Low".
"Minha idéia era tentar fazer um retrato musical do interior da
Polônia, mas eu não disse isso ao Brian. Foi bem simples até. Eu disse:
'Olha Brian, quero compor uma peça bem lenta, com um toque emotivo bem
forte, quase religioso. É só isso que quero dizer agora. O que você
sugere para começar?' Ele respondeu: 'Vamos gravar uma fita só com
estalos dos dedos'. E, aí, botou acho que 430 estalos numa fita virgem,
que nós anotamos como pontos em uma folha de papel e demos um número
para cada um, antes de destacar seções deles de um modo totalmente
arbitrário. Quando voltamos para o estúdio para tocar, mudávamos de
acorde ao alcançar o número combinado. Eu fiz o mesmo na minha parte. E,
quando apagamos os estalos, pudemos ouvir como tinha ficado e compor o
resto de acordo com o número de compassos que tínhamos dado um ao
outro."
Outro chamariz a atrair Bowie é o rock alemão, que atravessa a década de 70 como a única trincheira da inventividade. É lá que as experiências com a eletrônica na música são desenvolvidas em graus obsessivos. Nesse sentido, outra medida que contribui consideravelmente para a genialidade de "Low": a convocação do tecladista e produtor Brian Eno.
José Augusto Lemos (Revista Bizz 2 - Setembro de 1985)
Track list
1. Speed Of Life
2. Breaking Glass
3. What In The World
4. Sound And Vision
5. Always Crashing In The Same Car
6. Be My Wife
7. A New Career In A New Town
8. Warszawa
9. Art Decade
10. Weeping Wall
11. Subterraneans
2. Breaking Glass
3. What In The World
4. Sound And Vision
5. Always Crashing In The Same Car
6. Be My Wife
7. A New Career In A New Town
8. Warszawa
9. Art Decade
10. Weeping Wall
11. Subterraneans
Mais informações
pt.wikipedia.org/wiki/Lowwww.bowiegoldenyears.com/low.html
https://www.facebook.com/davidbowie
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