Disco da Semana; '4', Los Hermanos (2005)
Disco da Semana; '4', Los Hermanos (2005)
O
Los Hermanos chegaram ao quarto disco sendo chamada de 'a melhor banda do Brasil'. Será? Nesse quarto disco, a banda corre em direções opostas. Ou seja, Amarante e Camelo não falam mais a mesma língua.
Em
'4', a banda defende com unhas e dentes a MPB em detrimento do rock.
Obviamente, Marcelo Camelo, vocalista, guitarrista e principal voz dos
Hermanos é quem dita essa rédea. Já na primeira, 'Dois barcos', o disco já mostra seu lado 'velho'. Lenta... Progressiva... MPB DEMAIS pro meu gosto...
Não
que isso seja um problema, mas é esquisito pensar nessa pressa de
chegar a um nível estranho. é um disco difícil logo na primeira faixa.
Mas vamos pra segunda.
Bom, daí entra a velha e boa salvação da lavoura. Se na primeira faixa o disco navega pelo incerto, em 'Primeiro andar' vemos a trilha se retomar; a LINDÍSSIMA faixa é de, como de costume,
Rodrigo Amarante, o barbudo ruivo responsável pela segunda guitarra e
pela alma desordenada do quarteto. Letras desconexas, melodias perfeitas...
Ele é tudo do que a banda precisa. É o que traz o som para o lugar
certo. É até difícil comparar os dois compositores principais nesse
disco; Se antes, Camelo respondia a Amarante com uma 'O vencedor', ou uma 'Adeus você', agora a resposta é 'Fez-se mar',
uma bossa nova á moda antiga. Triste, cadenciada, baiana, Caymmi! Nunca
pensei que escreveria isso, mas Camelo está envelheçendo rápido demais.
Sim, a música é linda, perfeita para um namoro riponga. Ele
definitivamente, negou-se a escrever canções fáceis, no sentido popular,
e prefere a 'high-class'. Não duvidei muito ao vê-lo com um banquinho
tocando numa casa chique qualquer.
E lá vamos pra outra delícia de Amarante. 'Paquetá' e seu ritmo salsa. Sua letra trôpega e bela. Lembra um pouco 'Retrato pra Iá-Iá', do 'Bloco do Eu Sozinho'.
A cada audição do disco, todas as faixas que ficam na cabeça, que
causam emoção, são as do ruivo. Uma competição implícita, que na minha
opinião já está em dois a zero antes dos quinze do primeiro tempo.
'Os pássaros',
outra de Amarante. Lenta, emocional. Meio praiana. Como lí numa matéria
sobre a banda, esse é um disco perfeito pra se ouvir na praia quando
está chovendo. É a mais pura tradução. Um dia de tédio entre amigos. É um disco extremamente
alternativo, mas usa de todos os artefatos mais fáceis da música
brasileira. Dicotomias interessantes e, ao meu ver, nada casuais.
Sexta faixa e Marcelo Camelo resolve fazer um pop. 'Morena' é deliciosa, assim como 'Samba á dois' do disco anterior, o perfeito 'Ventura'.
Que aliás marca oma grande mudança em relação a este; Não ouvimos os
sopros tão marcados pelo disco anterior. E apesar de sempre lindos, até
agora, não fizeram falta nessa orquestra da simplicidade. Engraçado que,
mais uma vez citando, a única coisa comparável a eles são seus próprios
discos.
Começa o 'lado b' do disco. 'O vento', uma das melhores, é, de novo, de Amarante, numa letra inspiradíssia;'Como pode alguém sonhar o que é impossível saber... Não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer'.
Meio 60's. E outra frase da música resume um pouco as faixas de Camelo; 'Se a gente não sabe mais rir um do outro, meu bem, então só nos resta chorar'...
E depois dessa pepita preciosa, 'Horizonte distante' é
de chorar mesmo. A pior faixa da banda. Um rock errado. Grosso, sem
pegada. De letra e vocal horrível. Camelo não sabe mais sorrir.
Ufa! Demorou pra acabar. Realmente um pesadelo pensar se Camelo tomar 100% das rédeas para si. Só de ouvir a boba e singela 'Condicional' (cantada adivinhem por quem?), já esqueçemos o deslize da anterior. Lembra bastante 'Do Sétimo andar'. Mais uma letra linda e despretensiosa; 'Quis nunca te ganhar, tanto que forjei asas em teus pés'...
'Sapato novo' é
linda. Convencionalmente linda. Pode escrever que será gravada por
alguma diva da MPB. Uma puta letra romântica. Uma samba-canção quase
cinematográfica. Triste é pouco para essa música que, na minha humilde
opinião, é tão bem feita quanto qualquer uma de Tom Jobim. Podem tacar pedras... E se aqui ele se redime facilmente de 'Horizonte Distante', na próxima, 'Pois é', ele já convence do grande disco que fez. É a volta daquele compositor intenso de 'Ventura'. É arrastada, sim, mas é aquele arrastado 'Emo' de um Sunny Day Real Estate. O tipo de música que me fez gostar da banda em primeiro lugar.
'É de lágrima' é
o perfeito fechamento de um disco como esse. Melancólica e velha.
Silenciosa. Uma beleza apática. A mistura dos dois opostos propostos
nesse disco. Uma letra ruim. Uma melodia lacônica. E um instrumental
lindo. E isso é '4'. Jóia rara e de difícil compreensão. Maduro até
demais.
Tão maduro que caiu da árvore. A parada da banda foi propícia e acertada. Os transformou em 'banda pra se ver' antes de decaírem artisticamente. As direções estavam realmente opostas.
Márcio Guariba (UmTemperamentalViveAqui!)
Tracklist;
01- Dois Barcos
02- Primeiro Andar
03- Fez-Se Mar
04- Paquetá
05- Os Pássaros
06- Morena
07- O Vento
08- Horizonte Distante
09- Condicional
10- Sapato Novo
11- Pois é
12- É de Lágrima
01- Dois Barcos
02- Primeiro Andar
03- Fez-Se Mar
04- Paquetá
05- Os Pássaros
06- Morena
07- O Vento
08- Horizonte Distante
09- Condicional
10- Sapato Novo
11- Pois é
12- É de Lágrima
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