Discoteca Básica; 'Destroyer', Kiss (1976)
Discoteca Básica; 'Destroyer', Kiss (1976)
Você já imaginou como seria o mundo sem o Kiss? Reflita durante um momento. É Pense nos dinossauros progressivos dos anos 70, tipo Emerson, Lake And Palmer e Yes, querendo destruir o bom humor da raça humana. Pense em quantos caras compraram uma guitarra depois de ver e ouvir Ace Frehley. Pense em quantas festanças já não foram embaladas por "Rock'n'roll All Nite". A conclusão não poderia ser outra: Ace, Gene Simmons (baixo), Paul Stanley (vocal/guitarra) e Peter Criss (bateria) salvaram o rock'n'roll.
O quarteto botou demência onde só havia pretensão e virtuosismo assexuado, por isso lhe somos eternamente gratos. David Bowie, Marc Bolan e os New York Dolls já haviam jogado purpurina nos anos 70, mas nenhum deles atingiu tanta gente quanto o Kiss. Mas até hoje este planeta ingrato despreza os quatro mascarados de Nova York. Você já viu "Hotter Than Hell", "Destroyer", "Rock And Roll Over" em alguma lista dos melhores álbuns da história?
As pessoas "sérias" não gostam do Kiss porque o grupo é uma mancha na imaculada história dos heróis do rock. Gene & Cia. não estavam a fim de protestar contra nada, pouco ligavam para a guerra do Vietnã ou para a miséria do mundo. Só queriam mesmo se dar bem com as mulheres, encher o bolso de grana e se divertir com o rock'n'roll. E conseguiram!
Muitos acusam o Kiss de ser "palhaço" demais para ser levado a sério, mas se esquecem de que Little Richard tocava fogo no piano nos anos 50 e que James Brown tirava a camisa para mostrar os músculos para as fãs. Isso é rock'n'roll, uma palhaçada sem fim. O que o Kiss fez foi pegar esse lado clown e adicionar-lhe o toque épico que faltava. Gene, Paul, Ace e Peter sacaram que não era suficiente tocar rock. Era necessário "encenar" rock. Para embalar esse teatro gigante, só mesmo um som de arena, básico ao extremo. Músicas que colassem na memória, refrões fáceis.
E foi aí que Gene Simmons e Paul Stanley se revelaram verdadeiros gênios do pop. Disco após disco, a banda foi se aprimorando até chegar ao ápice: o monumental Destroyer. O começo do álbum é glorioso: "Detroit Rock City", "King Of The Night Time World" e "God Of Thunder", dez minutos de tirar o fôlego. O baladão "Beth" e "Do You Love Me" se destacam no meio de outras preciosidades. É um disco que se ouve da primeira à última faixa sem tirar o sorriso da boca. Nota dez.
A influência de "Destroyer" não pode ser medida. Todo ser humano que faz som pesado deve um pouco ao Kiss. Bandas tão diferentes quanto Anthrax, Venom e Nirvana são capazes de se ajoelhar à simples menção do nome de Gene Simmons. Até o Manowar chegou a copiar a capa de "Destroyer" (no álbum "Fighting The World").
O Kiss deixou uma lição: a de que é preciso levar a vida na brincadeira e que muita seriedade cansa a beleza. Felizmente, milhões aprenderam o dever de casa.
Quando você vir alguém na rua com uma camiseta da banda, pode cumprimentar que é gente fina.
André Barcinski (Revista Bizz edição 94, Maio de 1993)
Tracklist;
1. Detroit Rock City
2. King of the Night Time World
3. God of Thunder
4. Great Expectations
5. Flaming Youth
6. Sweet Pain
7. Shout It out Loud
8. Beth
9. Do You Love Me
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