Por que eu gosto de... Radiohead?


Por que eu gosto de... Radiohead?

Sim, este é mais um texto sobre o Radiohead. Sim, eu sou mais um dos milhões de admiradores de Thom Yorke e companhia. E sim, eles são a melhor banda do mundo. Ponto.

O Radiohead é a melhor banda do mundo por infindáveis motivos. Maior, não. Não interessa para eles. É cafona demais querer ser o maior em algo. Querer ser o U2. Eles querem ser os mais inovadores, mais estranhos e, definitivamente, os melhores. Dentro do seu mundo, em órbita do resto de nós.

Acompanhar a carreira do Radiohead é tão espetacular quanto acompanhar a carreira dos Beatles, ou ainda a de David Bowie, Roxy Music e outros artistas que se negaram a aceitar o que se espera deles. Thom Yorke fica inquieto quanto olha no espelho e não gosta do que vê.

A banda começou em 1985, com o infame nome On a Friday (por causa do dia dos ensaios...), emulando Smiths, Talking Heads, Magazine e Joy Division. Era pequena demais para o tamanho do universo musical britânico. Estava fadada ao esquecimento rápido.

Mesmo depois de alcançarem um hit, com "Creep", em 1993, eles continuavam como 'one-hit-wonder' destinada ao dos EUA. 'Próximo Nirvana' ou 'Mais um Nirvana' era sempre atrelado ao nome deles. Os singles que vieram a seguir pouco ajudaram. "Stop Whispering" e "Pop Is Dead" são insônssos e medíocres perante a avalanche musical vivida naqueles anos. Thom percebeu que precisaria mais do que letras simplóriamente tristes e riffs barulhentos de guitarra para alcançar o seu nirvana pessoal. Compôs "The Bends" durante a interminável turnê americana, ouvindo muito R.E.M., Pixies, Beatles e Jeff Buckley. O disco é perfeito. Barulhento e melódico no ponto certo. Baladas matadoras como "Fake Plastic Trees", "Street Spirit" e "High And Dry" comunhavam com as guitarras de "My Iron Lung", "Just", "The Bends" e "Planet Telex" perfeitamente. Sucesso certeiro não? 

Não... Apesar de ter sido aclamado por crítica e ter emplacado alguns dos singles, o disco ficou restrito ao gueto do indie rock. Não transformou a banda em grande fora do Reino Unido como esperava Yorke. 

'Foda-se',ele bradou. 

E foi compor o disco que queria.


"OK Computer", lançado no inicio de 1997, é um dos melhores e mais importantes discos de todos os tempos. 

Unindo a perfeição pop atingida no disco anterior com a tristeza espacial do Pink Floyd, o Radiohead fazia o seu "Revolver". Com temas sobre o vazio no final do milênio e a vida cotidiana, a banda acertou de cabo a rabo. Não há uma única faixa fraca. Vamos lá, pensem... "Airbag", "Paranoid Android", "Subterranean Homesick Alien", "Exit Music", "Let Down", "Karma Police", "Electioneering", "Climbing Up The Walls", "Lucky" e "The Tourist"... Ah! Até a vinheta "Fiftier Happier" é sensacional!

O disco foi um sucesso. Vendeu muito e foi elogiado por todo mundo. Era impossível viver naqueles anos e não ter ouvido as palavras "Radiohead" e "Genial" na mesma sentença.... 

Thom Yorke venceu!

E ai veio o problema. Ele se olhou no espelho e, novamente, não gostou do que viu.

Não gostou de estar ao lado de Travis, Muse, Coldplay e John Mayer. Não gostou de se tornar um Pop Star. Não gostou do que se tornou. O personagem sob o qual cantava.

Na época, com o lançamento do doscumentário "Meeting People Is Easy", víamos um Yorke desconfortável com seu sucesso e aprisionado em uma imagem que, querendo ou não, ele mesmo criou. Mais um babaca reclamando do sucesso, você pode dizer. Só que ele fez algo a respeito; Pegou tudo o que tinha composto e jogou no lixo, recomeçando tudo outra vez.

E cometeu "Kid A".

"Kid A" é como um primeiro álbum de uma nova banda velha. Funciona exatamente como tantos outros discos de reinvenção funcionaram, mas de uma maneira muito extrema. Em suas dez faixas, a banda nem remotamente lembra nada de sua encarnação anterior. Mesmo em mudanças radicais como Neil Young e Bowie já haviam feito, conseguíamos ver algo deles dentro das canções. Aliás, havia canções! O que há em "Kid A" são canções do Radiohead desconstruídas a tal ponto quu se tornam irreconhecíveis. Antitese de si mesmos. Uma nave espacial com pequenos alienígenas esquisitos devoradores de pop stars. Seu "Sgt. Peppers". "Amnesiac", lançado um ano depois, são as sobras do álbum anterior. Vão mais fundo ainda sem a mesma coesão.

Muitos os abandonaram. Realmente, era difícil de unir as pontas até então. Você precisava entender o todo, o contexto. Yorke precisava fugir para se reencontrar. E principalmente, precisava deixar a guitarra de lado para reconstruir o conceito de banda dentro da sua cabeça. Ninguem mais era de ninguem...

Só que eles se reencontram. E viraram um produto de tudo qe já haviam sido. "Hail to The Thief", de 2003, é outra reivenção. Na verdade, é o retorno das guitarras, só que comunhando com a esquisitice recém adquiridas. Mesmo com tradicionais "2+2=5" e "Go To Sleep", ouvimos maluquices como "Myxomatosys" e "The Gloaming". O disco funciona como um adulto reconheçendo o que se tornou e aceitando tudo o que já fez. Os shows dessa fase são matadores.

Não contentes em revolucionar a música que fazem, a banda também muda o conceito de comércio dela. Assim que se desligou da EMI, sua antiga gravadora, a banda resolveu não cobrar pelo seu novo disco. Os fãs poderiam pagar o que quisessem para baixar o álbum no site oficial. E não era um disco qualquer; "In Rainbows" é um clássico. É o "White Album" deles. E o mais incrível, é que fãs de longa data puderam notar que várias faixas abandonadas lá atrás, antes do lançamento de "Kid A", voltaram com nova roupagem. "Reckoner", "Nude", "Weird Fishes"... O disco é tudo do Radiohead em um só lugar. E sim, duplo! Apesar de ter sido lançado como um bonus, o segundo disco tem faixas tão boas quanto as principais. "Down Is The New Up" e "Go Slowly" não me deixam mentir.

Seguiram surpreendendo... 

"The King Of Limbs" foi lançado sem alarde. Com cara de feito as pressas. Complicado e jazzístico. Ganhou força, incrivelmente, quando tocado ao vivo, com dois bateristas. Yorke se tornou obcecado pelo ritmo. Quer transpor a música eletrônica para os instrumentos. Nada mais é o que parece.

Logo após o lançamento do álbum, a banda começou a tocar várias faixas novas. Duas delas, tudo o que a banda é, de hoje e de sempre. Duas de suas melhores canções até agora... 

Sobra criatividade. Sobra inventividade. Entenderam agora a comparação initerrupta? Sim, os Beatles da minha geração... Quem criou mais e por tanto tempo? Quem se manteve tão íntegro a sua composição? Quem foi de "I Wanna Hold Your Hand" a "Strawberry Fields Forever" além deles?

Saia de órbita e fique lá. Você não vai se arrepender...

(Márcio Guariba - 23/09/2013)



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