Música + Livros; 'Como a Música Ficou Grátis', de Stephen Witt
Música + Livros; 'Como a Música Ficou Grátis', de Stephen Witt
Para qualquer devoto da música, os últimos 15 anos tiveram uma influência única. Se antes era preciso garimpar sebos e lojas em geral atrás daquele disco, seja em vinil ou CD, a última década e meia instituiu uma liberdade incrível. Com apenas alguns cliques, em casa mesmo, não se tinha mais um ou dois álbuns, mas a discografia completa de quem você quisesse. E tudo isso sem consumir preciosos espaço em armários e estantes.
Mais do que uma revolução de mídia – que passou a ser irrelevante com o surgimento do MP3 -, a “geração do download” viveu uma mudança de paradigma no consumo de cultura.Em “Como a Música Ficou Grátis”, Stephen Witt traz três personagens cujas histórias acontecem paralelas, mas que se encontram contextualmente ao longo da leitura.
Mais do que uma revolução de mídia – que passou a ser irrelevante com o surgimento do MP3 -, a “geração do download” viveu uma mudança de paradigma no consumo de cultura.Em “Como a Música Ficou Grátis”, Stephen Witt traz três personagens cujas histórias acontecem paralelas, mas que se encontram contextualmente ao longo da leitura.
A primeira é de Karlheinz Brandeburg, criador do MP3; A segunda é de Bennie Glover, funcionário da fábrica de CDs daPolyGram em Kings Mountain, Carolina do Norte, e que participaria do maior grupo de vazamentos de CDs da história; A terceira é de Doug Morris, executivo que fez sucesso a frente da Universal, assinando com artistas como Dr. Dre, Eminem, Taylor Swift, Tupac e Lil Wayne.
Ao contar cada biografia de maneira independente, Witt nos instiga ao mesmo tempo que nos obriga a refletir sobre a influência de cada personagem para a trama geral do livro. Sem o MP3, não seria possível o vazamento de CDs pela internet. E sem o ápice da indústria fonográfica no fim do século XX, não seria possível que o compartilhamento dos CDs ripados se espalhasse tão rapidamente.
Em tempos de “Uber x Táxi” e “Netflix x TVs”, ler “Como a Música Ficou Grátis” cai como uma luva no meio desse imbróglio. É inegável as ilegalidades cometidas pelos “vazadores” de CDs antes do lançamento, contudo, o maior crime talvez tenha sido da própria indústria, que tratou como inimigo uma tendência que ia além das leis vigentes: era uma mudança de comportamente de uma geração inteira e ao tratar com tamanha agressividade, tornou legítima a própria resistência.
A inocência dos atos talvez deve receber seus créditos. Brandenburg nunca achou que o MP3 mataria o CD, mas apenas seria uma maneira mais rápida de enviar arquivos de áudio (transmissões de jogos, por exemplo); Glover só queria usar de seus conhecimentos tecnológicos para ter acesso a um poder e status que nunca conseguiria na vida real (mas também conseguiu lucrar muito com a venda de DVDs); Doug Morris é um executivo que pensa em resultados de vendas, sem refletir sobre a substituição da música como arte por música como produto (ou: para quê comprar um CD inteiro se posso ter apenas o hit?).
O livro alimenta a curiosidade para saber as consequências das tramas. Com uma narração que lembra um romance policial, Witt consegue desenhar perfis psicológicos de cada um dos personagens, envolvendo-nos em um enredo intrigante.
Para quem quer entender de onde surgiu o Spotify que ouvimos hoje, “Como a Música Ficou Grátis” é imprescindível.
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