Discoteca Básica: "The Very Best of Solomon Burke", Solomon Burke (Compilação, 1998)




Discoteca Básica: "The Very Best of Solomon Burke", Solomon Burke (Compilação, 1998)

Não existe, na história da música pop, biografia mais curiosa. Pregador (desde os 7 anos de idade) e líder de uma igreja, The House of God for All People; agente funerário e proprietário de uma rede de farmácias, restaurantes e serviços de limusines. Pai de 21 filhos, avô de catorze netos e um dos principais cantores e pioneiros da soul music, menos conhecido que Ray Charles e Sam Cooke, mas de igual importância para a definição do gênero.

Essa breve descrição está longe de traçar o retrato completo de Solomon Burke. O melhor livro escrito sobre o pop negro americano - Sweet Soul Music, de Peter Guralnick - gasta dezenas de páginas só com as inacréditáveis histórias vividas pelo Bispo, como o chamam colegas e fãs. Burke começou a gravar, ainda adolescente, em 1954, mas abandonou a música dois anos depois, desiludido. Passou um tempo na vagabundagem, mas voltou a estudar e iniciou uma bem-sucedida carreira empresarial. Voltou a cantar por insistência do dono do selo Singular Records e em pouco tempo era contratado pela Atlantic, gravadora que fez a história do rhythm'n'blues entre o final dos anos 50 e a primeira metade dos 60.

Os clássicos de Burke estão todos nesta coletânea, com singles dos sete anos (1961-68) em que esteve com a Atlantic. O primeiro deles, "Just Out Of Reach", não podia ser mais improvável: uma versão de uma balada country que fracassara na voz de especialistas como Patsy Cline.

O barítono romântico, rasgado na melhor tradição gospel começa a arrepiar para valer em três faixas que entram tranquilamente em qualquer antologia soul: "Cry To Me","Everybody Needs Somebody To Love" (ambas gravadas pelos Rolling Stones no início da carreira) e "If You Need Me". Ainda assim, a intensidade máxima talvez esteja em "The Price", escancarando a veia do pregador. A música nasceu de um sermão, pouco depois de o cantor receber a papelada de seu divórcio. Dizem, aliás, que no palco o Bispo só era menos incendiário do que James Brown.

Para completar, o disco inclui um bônus: "Soul Meeting" , o até então raríssimo single gravado pelo Soul Clan, grupo vocal fundado por Solomon Burke com mais três ilustres soulmen: Don Covay, Joe Tex, Arthur Conley e Ben E. King.

José Augusto Lemos

(Revista Bizz, Edição 1971, Outubro 1999)


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