Discoteca Básica; 'Four Way Street', Crosby, Stills, Nash & Young (1971)



Discoteca Básica; 'Four Way Street', Crosby, Stills, Nash & Young (1971)

Há,no mínimo,duas maneiras de incluir um álbum em sua discoteca básica. A primeira engloba aqueles LPs que, durante a infância ou a adolescência, graças à sua excelência musical, moldaram o seu gosto musical, deram contornos largos ao seu universo emocional, enfim ... fizeram de você uma pessoa melhor, ou ao menos mais feliz . Discos que acompanharam você desde sempre como um pequeno ursinho de pelúcia incrustado na memória do coração.



A segunda é a descoberta de tais obras fundamentais numa outra época. Subitamente, você repara num imenso lapso deixado pela desatenção ou até mesmo pela simples ignorância. É o meu caso com 4 Way Street, de Crosby, Stills, Nash & Young. Este texto destina-se àqueles que como eu, gastaram muitos anos de suas vidas desconhecendo a  magia desse trabalho.

 Terceiro álbum do quarteto. trata-se, inegavelmente, de uma obra-prima! Gravado ao vivo em 1970 entre Nova York. Chicago e Los Angeles, 4 Way Street captura momentos sublimes. No formato de um CD duplo - com quatro faixas adicionais magníficas-, a primeira parte traz o set acústico, e o segundo, a parte eletrificada. 

Álbuns ao vivo, em geral, têm a função de entregar aos fãs uma segunda leitura de músicas previamente conhecidas. Essas versões sempre soam mais quentes ou mais vibrantes, pois compensam a perda de qualidade das gravações de estúdio com o calor e o suor proporcionados pela presença de uma audiência. Muitas vezes esses LPs agradam apenas àqueles que já gostavam do trabalho.



Arrisco a dizer que 4 Way Street foge completamente à regra. Ainda estabelece um outro parâmetro: quanto maior a crueza do arranjo, mais se percebe o esqueleto, a alma da canção de seu mtista. Em muitos momentos deste show. cada um dos quatro empunha seu violão e se entrega a desenhar no ar  o espírito irreproduzível de suas composições. São momentos de tal magia que esquece-se de respirar. Para exemplificar. citarei apenas um momento de cada um. David Crosby com "The Lee Shore" (capaz de fazer pedras milenares chorarem). Stephen Stills em "49 ByeByes/America's Children" (absolutamente eletrizante), Graham Nash em "King Midas In Reverse" (uma verdadeira jóia, com um refrão comovente); e Neil Young com “Don’t Let It Bring You Down”(talvez a mais linda canção que eu já tenha ouvido,embora isso possa parecer absurdo).Estou falando apenas de quatro das 15 canções do primeiro álbum.Todas são fundamentais.

O segundo disco traz a parte eletrificada do show. O destaque é a longuíssima versão de"Southern Man", com seus 13 minutos e 45 segundos de solos alternados de Stills e Young.Completam a banda o baterista Johnny Barbata (que também emprestou suas baquetas aos Seeds e Turtles, duas crias psicodélicas dos anos 60) e Calvin Samuels (baixo).

Trata-se de um clássico dos anos 70 que permanece absoluto e incomparável.Na tradição dos grandes álbuns duplos de rock' n 'roll, 4 Way Street tardiamente veio engrossar minhas prateleiras. Não deixe que isso aconteça com você. Se não tiver ainda esse disco. pare tudo imediatamente e vá comprá-Io. Vale a pena.


Nando Reis (Revista Bizz, edição 135, Outubro de 1996) 

Tracklist;

01. 'Suite: Judy Blue Eyes'
02. 'On the Way Home'
03. 'Teach Your Children'
04. 'Triad'
05. 'The Lee Shore'
06. 'Chicago'
07. 'Right Between the Eyes'
08. 'Cowgirl in the Sand'
09. 'Don't Let It Bring You Down'
10. '49 Bye-Byes/America's Children'
11. 'Love the One You're With'
12. 'King Midas in Reverse'
13. 'Laughing'
14. 'Black Queen'
15. 'The Loner'/'Cinnamon Girl'/'Down by the River'
16. 'Pre-Roads Downs'
17. 'Long Time Gone'
18. 'Southern Man'
19. 'Ohio'
20. 'Carry On'
21. 'Find the Cost of Freedom'




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