Música + Livros; 'Mick Jagger', de Phillip Norman


Música + Livros; 'Mick Jagger', de Phillip Norman 

Em 2012, a maior banda de rock que já existiu completou cinquenta anos. Foi em 1962 que tudo começou, quando alguns garotos ingleses de classe média amantes do blues americano reuniram-se sob o nome de Rolling Stones, pretendendo não muito além de homenagear seus ídolos, soar como eles, e, dessa forma, ser a melhor banda de Rhythm & Blues do Reino Unido.
O que aconteceu desde então já faz parte da larga e importante história da cultura pop no século XX. Os responsáveis pelo desenrolar dessa história são ícones da música no mundo todo; o principal deles, o hoje Sir Michael Philip Jagger, é o representante maior da figura do rock star com os quais nos acostumamos desde quando Elvis Presley apareceu com sua música enérgica e seu requebrado desafiador.
E é do Michael – de bom desempenho escolar (chegando a estudar na prestigiada London School of Economics) e praticante de esportes (fundou um clube de basquete na escola e um grande fã de críquete) – que se transformou no Mick – o admirador de blues que definiu o que é ser frontman de uma banda de rock’n’roll – que o jornalista Phillip Norman se ocupou nas 624 páginas de sua mais nova investida literária, a biografia não autorizada Mick Jagger, lançada há pouco tempo no Brasil pela Companhia das Letras.
Da avalanche de sexo e drogas que marcaram a carreira dos 
Rolling Stones nos anos 60 e 70, ao sagaz homem de negócios que o gerenciamento de uma marca gigantesca que sua banda se tornou exige, sem deixar de lado o homem de família, pai de sete rebentos, Mick Jagger pelas 250.000 palavras (aproximadamente) de Phillip Norman foi mostrado como um personagem grandioso em diversos aspectos de sua vida.
Em um dos mais controvertidos desses aspectos, a do inveterado amante (e amado) das mulheres, Jagger é descrito por Norman como por vezes contraditório, por vezes vulgar, por vezes doce – as principais relações amorosas de Mick, Marianne FaithfullBianca Jagger e Jerry Hall, foram marcadas por momentos de extrema canalhice e outros de apaixonante gentileza.De outro modo, a despeito da vida desregrada e caótica de sua banda, com o abuso excessivo de drogas, que inclusive levou à morte o seu primeiro guitarrista solo, Brian Jones, pouco tempo depois de ser dolorosamente demitido por Jagger e seus companheiros, Mick sempre se mostrou o homem certo para gerenciar a carreira da ‘monstruosidade’ financeira e artística que foi, é e continuará sendo osRolling Stones.

Apesar dos inúmeros envolvimentos com autoridades policiais em diversas partes do mundo (desde porte de drogas com o episódio de 1967, detalhadamente contado por Norman no livro, ou no episódio da morte de um fã no conturbado show de Altamont em 1969), das perdas de integrantes, das disputas financeiras com gravadoras e empresários, das separações amorosas, litigiosas ou não, Mick Jagger sempre permaneceu focado no seu trabalho e no direcionamento da sua banda, seja no processo de composição e sucesso de um single/álbum (e foram tantos…), seja nas importantes decisões financeiras que a envolviam (o planejamento de turnês, lançamentos, etc.).

Phillip Norman é renomado na sua carreira como biógrafo, já contou a história de artistas como BeatlesElthon John e Buddy Holly, além dos próprios Stones em diversas oportunidades (são quatro livros sobre o quinteto inglês até hoje lançados pelo jornalista). Por isso, o experiente escritor tem um vasto conhecimento a respeito das primeiras décadas do rock’n’roll, dos seus principais personagens e do que representa historicamente aquela época.
Em Mick Jagger (o livro), seu senso aguçado de repórter e sua insistente curiosidade revelam-se a cada detalhe cuidadosamente esmiuçado das principais estórias que envolvem Mick e sua lendária banda.Phillip Norman também se mostra um excelente escritor ao lançar mão de artífices literários para montar, quando não possível com fatos, a narrativa biográfica de Jagger. Neste aspecto, as passagens mais notáveis são quando o jornalista nos conta sobre a origem das principais músicas compostas pela dupla Jagger/Richards, e a relação de cada uma com a trajetória conturbada da banda e a vida pessoal de seu líder.
Por fim, é preciso dizer que todas as estórias e lendas em torno de Mick Jagger e dos Rolling Stones estão presentes no livro produzido por Phillip Norman, e, para qualquer fã que queira saber os pormenores da vida de ambos, cujas histórias tornaram-se una no já longínquo ano de 1962, este colosso de mais de 600 páginas será um prato cheio. Mas o mérito maior do livro de Norman está em tratar o biografado como um personagem diverso, interessante e complexo, trazendo à tona histórias do seu passado mais remoto (como sua vida pré-Stones), esclarecimentos sobre decisões importantes que marcaram a trajetória da banda, até fuxicos sobre acontecimentos recentes da vida do líder do hoje quarteto inglês, ou seja, quase tudo o que Mick Jagger insistentemente nos priva com uma sempre oportuna falta de memória a respeito da sua trajetória artística e vida pessoal.

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