Discoteca Básica, 'Maggot Brain', Funkadelic (1971)


Discoteca Básica, 'Maggot Brain', Funkadelic (1971)


Assim como James Brown, George Clinton é referência obrigatória e objeto de zilhões de samples, não só no meio do rap como na música pop em geral. Porém, muitos dos que balançam ao som de "What's My Name?" (releitura do rapper Snoop Doggy Dogg para "Atomic Dog", de Clinton) não conhecem a real extensão do trabalho do mestre do funk espacial.


A primeira investida musical de Clinton - até então um pacato cabeleireiro de Nova Jersey - na virada dos anos 50 para os 60 foi com os Parliaments. O grupo emplacou a singela canção de amor "(I Wanna) Testify" na parada de R&B americana. Animado, o artista mudou-se para Detroit e foi tentar a carreira como  compositor da Motown.

 Em Detroit, Clinton entrou em contato com a psicodelia e o som de garagem de bandas como MC5 e Stooges. Os donos dos cigarros Parliament não queriam ver o nome de seu produto associado a um grupo de doo wop e entraram na Justiça contra o cantor. Era o que faltava para Clinton mudar o nome da banda e seu estilo musical. Sob a alcunha de Funkadelic, o combo psicodélico do Or. Funk assinou com a Westbound em 1967. Quatro anos depois, lançaria sua obra-prima: Maggot Braín. O disco é um exemplo perfeito do caleidoscópio sonoro que é a obra do artista, clássico da black music, além de um dos melhores álbuns lançados na década de 70.

 As gravações dessa maravilha rolaram em festas regadas a ácido - denunciado pelo clima "viajante" do disco. O ouvinte desavisado com certeza vai estranhar a primeira faixa, uma viagem guitarrística de mais de 10 minutos executada em um único take por Eddie Hazel (guitarrista do P-Funk, morto em 1994, e que era uma espécie de reencarnação de Jimi Hendrix). "Maggot Brain" é até hoje marca registrada dos shows da banda. 

Encerrada a psicodelia melancólica da faixa-título, "Can Vou Get To That" entra para o deleite dos funkeiros. Manhosa e malaca ao extremo, a composição faz parte de qualquer top 10 do grupo. 

Preste atenção em "Hit It And Quit It", em que também fica clara a influência de Hendrix não só no som da guitarra, mas sobre a sonoridade do Funkadelic como um todo. Já "Vou And Vour Folks, Me And My Folks" é um groove chapadão que explora as raizes gospel e R&B, cuja batida é daquelas que fica o tempo todo na mesma levada sem encher o saco. "Super Stupid" é um caso à parte. Serviu de base para pelo menos umas cinco canções dos Red Hot Chili Peppers, antecipando em vinte anos aquilo que ficaria conhecido no começo dos anos 90 como funk-o-metal. 

Comandada pelo baixo (que ainda não era tocado por Bootsy Collins, considerado o braço direito de Mr. George), "Back In Our Minds" é a penúltima faixa, a mais hippie do disco. Com tanta Iisergia rolando, o maluco Dr.Funk não resistiu à tentação de fechar o registro com outra de suas viagens conceituais. Ainda bem, pois os quase 10 minutos de "Wars Of Armageddon" não podem ser definidos com outro termo que não "funkadélicos". E, no fim das contas. essa é a virtude que torna Maggot Braín tão especial: o improvável equilíbrío entre rock psicodélico e funk music. 

Rodrigo Brandão (Revista Bizz, Edição 151, Fevereiro de 1998)


Tracklist:01 Maggot Brain (00:00
02 Can You Get to That (10:20)
03 Hit It and Quit It (13:11)
04 You and Your Folks, Me and My Folks (17:02)
05 Super Stupid (20:42)
06 Back in Our Minds (24:43)
07 Wars of Armageddon (27:24)



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