Música + Cinema; 'Born to Be Blue' (2015)


Música + Cinema; 'Born to Be Blue' (2015) 

– Te pagam dois mil dólares por um beijo e dois dólares pela sua alma. Sabe quem disse isso?
– Não.
– Marilyn Monroe.

Através de diálogos assim, econômicos e não menos vorazes, que logo notamos o tom de Born to te Blue, uma obra não de primórdios, mas sim de recortes.

Procurando retratar um momento, a obra usufrui de todo intimismo possível para nos situar dentro do controverso e genial mundo do lendário trompetista de Jazz Chet Baker.

É sabido que o cultuado e problemático músico, que sempre oscilou entre seu brilhantismo dom e momentos auto-destrutivos, acarretados principalmente por seu envolvimento com heroína. Fruto de uma geração transgressora e, portanto, cheia de excessos é importante salientar que a heroína infelizmente assolou grande parte dos integrantes do movimento artístico-musical originado nos E.U.A.

Aqui encontraremos um Chet em processo de recuperação, confrontando seu demônios, pagando por seus erros passados e tentando ressurgir mental e estruturalmente, buscando se desvencilhar do ostracismo e novamente se firmar no Hall que sempre lhe pertenceu, ou seja – em um palco com holofotes e plateia.

O filme dirigido por Robert Budreau (produtor e também assinante do roteiro), mesmo não se arriscando, segue uma cartilha precisa e entrega ao público um bom material. Assumindo um caráter minimalista, as tensões se revelam contidas, porém não menos ‘explosivas’, ao contrário, denotam uma angústia que casa bem com o ritmo proposto.

Abro um parênteses e aponto que, de todos os acertos do filme, indubitavelmente está principalmente a performance de Ethan Hawke que, assumindo a persona de Chet, acerta em cheio. Neste trabalho, o ator vai além do notório arquétipo e constrói uma sutil interpretação merecedora de todos aplausos possíveis. A força de sua interpretação fica mais evidente em seu olhar do que propriamente em seus diálogos, algo que se escancara em um notório momento chave da trama, que se dá entre o diálogo de Chet com seu pai.

Há de se apontar também o belo trabalho de Carmen Ejogo(Jane) companheira de Chet que lhe dá bastante força em sua jornada, sendo para o artista uma âncora em seu momentos mais sombrios.

Não obstante todos os fantasmas acarretados, acompanharemos um outro forte drama do músico que, após perder os dentes em uma briga de rua, deverá encontrar forças para reverter esse quadro, reformulando até sua embocadura se assim for necessário, superando s si mesmo e tudo o que um dia fez dele uma estrela.

Afiado o cálamo, o garoto da Costa Oeste se encontrará em um complexo dilema de suas escolhas, em que se verá confrontado e advertido sobre isso, pois sabe que, mesmo que “cante com a língua dos anjos, se não tiver amor, será apenas um címbalo que retine.”
Sobre a efígie de um Fauno, que deixa um rastro de poeira a cada movimento de seu percurso, entre encontros e desilusões, Chet volta aos palcos com seu atípico swing, e é então que as luzes se acendem, as cortinas se abrem e surge pro mundo My Funny Valentine e Born to Be Blue – canções extremamente românticas sublimadas por uma indomável angústia sem fim.

O que fica evidente, não só ao desfecho mas ao longo de todo o filme, é que o maior inimigo da vida Chet sempre foi “seu eu”, que por muitas vezes, na busca por uma libertação, acabou se tornando refém de si mesmo.

Tiago Lopes (http://www.vortexcultural.com.br/cinema/critica-born-blue/)

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