Discoteca Básica; 'Forever Changes', Love (1967)



Discoteca Básica; 'Forever Changes', Love (1967)


Com o neopsicodelismo inglês, que vem desde a passagem da década (Echo & the Bunnymen, Teardrop Explodes, Monochrome Set) e até a recente consolidação das bandas assumidamente regressivas (Primal Scream, Weather Prophets, Primitives, Brilliant Corners, Razorcuts, Mighty Lemondrops, Shamen) - onde reconstitui-se com uma nova roupagem a estética dos anos 60 -, uma lado mais obscuro da geração psicodélica passou a ser fortemente reverenciado. Tornou-se fashion rebuscar as melhores doses de inspiração não apenas nos expoentes da West Coast music (Jefferson Airplane, Grateful Dead, Doors) como também nas bandas de folk rock (Buffalo Springfield, Byrds) e em obscuros e insólitos cult groups californianos como H.P. Lovecraft, Strawberry Alarm OÕClock, Spirit e Smoke.



A mais cultuada e reconhecida fonte de idéias, entretanto, foi o Love, grupo criado pelo guitarrista/vocalista Arthur Lee, que em 64 largou sua terra natal (Memphis) e se picou para L.A., onde recrutou os guitarristas Bryan McLean e John Echols, o baixista Ken Forssi e o baterista Don Conka (logo substituído por Alban "Snoopy" Pfisterer). Contratados pela Elektra, debutaram em vinil com o LP "Love" (66) que conta com canções inesquecíveis como a ode lisérgica "Signed D.C." e duas covers, uma de Burt Bacharach/Hal David ("My Little Red Book") e outra infernal do clássico "Hey Joe". No 2° LP, Da Capo, que conta com o acréscimo de Tjay Cantarelli nos sopros e Snoopy (substituído na bateria por Michael Stuart) comandando os teclados, o Love solidificou sua musicalidade - ritmos e melodias de uma psicodelia pouco ortodoxa, condensada por idiossincráticos elementos de folk rock e turvas passagens de rhythm'n'blues que, aliadas a tons de balada, fizeram de seu som um dos mais originais e peculiares do desbunde americano.



O disco em questão é o seguinte: "Forever Changes", lançado no início de 68 e considerado um dos mais importantes dos anos 60 e o mais significativo do Love. A partir deste LP, a banda original dissolveu-se, cabendo a Lee carregá-la nas costas por mais quatro álbuns que, embora interessantes, já não continham mais a expressividade que os havia caracterizado.


Produzido em conjunto por Bruce Bostnick (que depois produziria o "L.A. Woman" dos Doors), é um LP voltado às transformações que, literalmente, revolucionaram boa parte do cenário pop. Desde a inclusão de sopros e cordas até o turbilhão eclético que permeia os arranjos das onze faixas, pode-se dizer que "Forever Changes" é o "Sgt. Pepper's..." do Love, ou seja, a ruptura com elementos mais formais e uma recriação do toda a psicoparafernália do cérebro - queimado de ácido - de Lee. As letras, iluminadas pela aura surrealista, divagam, entre trocadilhos elegantes e rimas aparentemente ingênuas em torno do desassossego, da dúvida e do comportamento (re)visto por uma ótica chumbada de lindos sonhos dourados.

Quanto às canções, encontramos baladas flamengo-orquestrais como "Alone Again Or" e "Maybe the People Would Be the Times or Between Clark and Hilldale", o bucolismo folk de "Old Man" e "Live and Let Live" (essa é bem à la Donovan), as baladas-romântico-psicopop "Andmoreagain" e "The Good Humor Man He Sees Everything Like This", as complexas texturas psicoclássicas que discutem as situações do homem perante a existência na legendária "The Red Telephone", as sofisticações psicodélicas com inesperadas ou ásperas mudanças e distintas modulações nas harmonias presentes e, "A House Is not a Motel", "The Daily Planet" e "You Set the Scene" e o curioso dylanesco semi-rap-psicodélico "Bummer in the Summer". Essas canções eram mais ou menos assim. Hoje tenho muitas saudades desse Amor derretido por excesso de ácido e criatividade.


Fernando Naporano (Revista Bizz Edição 34, Maio de 1988)



Curiosidade; Os dois primeiros discos venderam cerca de 100 mil cópias, número expressivo para a época. Entretanto por seu forte temperamento Lee se recusava a excursionar com banda muito longe de Los Angeles, cidade onde então haviam se estabelecido, o que de certo modo tornava o Love um grupo cult fora destas cercanias. De nada adiantou a insistência da gravadora por uma excursão e um hit single como “Light My Fire” dos Doors. Nas palavras de Jac Holzman, presidente do selo: "Arthur era e provavelmente é um das pessoas mais espertas que conheci do meio. Apesar do talento, ele preferia ficar isolado mais do que o necessário e isso prejudicou muito sua carreira. Ele foi um dos maiores gênios que conheci, mas apesar de tanta genialidade, recusava a aparecer em público."

Tracklist;


Lado A:

01. 'Alone Again Or...'
02. 'A House is Not a Motel'
03. 'Andmoreagain...'
04. 'The Daily Planet'
05. 'Old Man'
06. 'The Red Telephone'

Lado B:

01. 'Maybe The People Would Be The Times or Between Clark and Hilldale'
02. 'Live and Let Live'
03. 'The Good Humor Man. He Sees Everything Like This'
04. 'The Bummer Is The Summer'
05. 'You Set The Scene'



Mais informações;

en.wikipedia.org/wiki/Forever_Changes

E no blog...

Comentários

Popular Posts

Música + Livros; 'Barulho - Uma Viagem pelo underground do rock americano', André Barcinski