Discoteca Básica; 'Black Sabbath', Black Sabbath (1970)


Discoteca Básica; 'Black Sabbath', Black Sabbath (1970)

No início de 70, um então desconhecido quarteto da cidade inglesa de Birmingham chocaria a Europa ao gravar um álbum que ultrapassava todas as fronteiras da brutalidade sonora que eram conhecidas até então.

Muitas bandas já tocavam alto na época: The Who, Cream, Deep Purple, Led Zeppelin e o pré-punk de Detroit (The Stooges e MC5). O heavy do Black Sabbath, no entanto, era diferente - mórbido, cruel, demoníaco. Enquanto o psicodelismo dos hippies ainda ecoava por todo o mundo e o rock progressivo passava por seu período mais promissor, o vocalista Ozzy Osbourne declarava: "Nossa música é uma reação a toda essa babaquice de paz, amor e felicidade. Os hippies ficam tentando te convencer de que o mundo é uma maravilha, mas é só olhar ao redor para ver em que merda nós estamos."

Ozzy tinha todas as razões para reclamar da vida: teve uma infância pobre e passou boa parte de sua adolescência trancado nas cadeias de Aston, o bairro miserável de sua cidade natal. Em 67 resolveu montar um grupo com o guitarrista Tony Iommi, o baixista Terry "Geezer" Butler e o baterista Bill Ward, começando a tocar no circuito de bares por cachês irrisórios. Como resultado direto de suas frustrações e problemas financeiros, viram seu som se tornar mais sujo e agressivo a cada dia.



Black Sabbath, o álbum de estreia do grupo - lançado numa sexta-feira, 13 de fevereiro -, foi a válvula de escape de toda essa revolta acumulada ao longo de três anos de estrada. A violência condensada em vinil. Da abertura da faixa-título, com o som de chuva e sinos, até o último acorde de "Warning", tínhamos um festival de acordes tonitruantes, vocais ensandecidos e ritmo pulsante. Os temas abordados - missas negras, encontros com Lúcifer e predições catastróficas - eram frutos, principalmente, da leitura exaustiva das obras do inglês Dennis Wheatley. Três músicas deste LP, ao menos, ficariam marcadas para sempre na história do heavy: a já citada "Black Sabbath", "The Wizard" e "N.I.B.". Junto a "Behind The Walls of Sleep" (inspirada num livro de H.P. Lovecraft), "Evil Woy Your Games With Me", "Sleeping Village", "Warning" e, em algumas edições, a faixa extra "Wicked World" (lançada no mês anterior como o primeiro compacto da banda), formam um álbum fundamental e precursor do que se viria a fazer em termos de rock pesado.

Com sua sonoridade única, o heavy do Black Sabbath não nasceu de nenhum desdobramento de outro gênero, mas surgiu num rompante de ousadia de quatro músicos moldados pelas dificuldades e pela revolta contra o establishment "bicho-grilo". Enquanto o rock progressivo promovia viagens por paisagens idílicas, o Black Sabbath oferecia uma passagem sem volta ao inferno. Nesse contexto, a banda viveria momentos de glória até 75, com o lançamento de seu sexto LP, "Sabotage". Depois entrou em lento processo de decadência, movido por batalhas egocêntricas.

No entanto, o grupo permanece como um dos mais subestimados de todos os tempos. É bem verdade que o heavy tem uma incrível facilidade em gerar mediocridades, dando farta munição para os detratores de gênero. Mas é inadmissível que a importância de Black Sabbath ainda seja posta em dúvida no momento em que algumas das mais conceituadas bandas da atualidade - como o Faith No More e o Soundgarden - se declaram tão influenciadas por seu som.

André Barcinski (Revista Bizz, edição 70, Maio de 1991)


Tracklist
1. "Black Sabbath"
2. "The Wizard"
3. "Behind the Wall of Sleep"
4. "N.I.B."
5. "Evil Woman"
6. "Sleeping Village"
7. "Warning"
8. "Wicked World" 


Mais informações;

en.wikipedia.org/wiki/Black_Sabbath
www.black-sabbath.com/

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