Disco da Semana; 'Girls In Peacetime Want to Dance', Belle & Sebastian (2015)


Disco da Semana; 'Girls In Peacetime Want to Dance', Belle & Sebastian (2015)

A capacidade de contar boas histórias talvez seja o principal instrumento de trabalho a cada novo álbum do Belle and Sebastian. Personagens fictícios esbarram nas histórias reais de Stuart Murdoch, dramas corriqueiros se escondem em meio a confissões intimistas e versos irônicos passeiam em meio a bases sutis, como se histórias tipicamente adultas fossem acomodadas em uma estrutura de composição pueril. Com o nono álbum de estúdio, Girls in Peacetime Want to Dance (2014, Matador), a essência da banda permanece a mesma, entretanto, a estrutura musical agora é outra, íntima das pistas de dança.

Longe de escapar do mesmo ambiente confortável (e pop) reforçado desde Dear Catastrophe Waitress (2003), cada instante do sucessor de Write About Love (2010) parece articulado em meio a tímidos passos de dança. Poderia ser um material perdido do ABBA – na fase Arrival (1976) – ou mesmo uma versão menos frenética do Cut Copy em In Ghost Colours (2008), mas é apenas um curioso exercício de criação, a tentativa de Murdoch em encaixar seus tradicionais temas humanos em cima de descompassadas coreografias.

Ainda que o globo espelhado e luzes coloridas sejam acionadas apenas na terceira faixa do disco,The Party Line, quando mais o ouvinte se aproxima do núcleo da obra, mais o ritmo acelera e os sintetizadores ditam o funcionamento dos vocais. Melodias acústicas no melhor estilo Tigermilk? Esqueça, o cenário desbravado pelo (hoje) sexteto transborda novidade, mesmo que a estrutura da obra confirme o interesse da banda pela década de 1970. Assim como a  abertura comercial lançada em The Life Pursuit (2006), GIPWTD talvez seja o indicativo de um novo caminho a ser percorrido pelo Belle and Sebastian.

Sem necessariamente parecer uma cópia, diversos aspectos do presente álbum parecem replicar conceitos antes explorados pelo Arcade Fire em Reflektor, de 2013. Incapaz de romper com a estrutura incorporada pela banda até o registro de 2010, Murdoch e Ben H. Allen, produtor do disco, flertam com o passado em um sentido tão nostálgico quanto presente, promovendo um trabalho próximo de uma linguagem atemporal. Temas autobiográficos e melancólicos que parecem prontos para aquecer as pistas e, ao mesmo tempo, confortar a mente do espectador.

A grande diferença entre os dois trabalhos está no “conceito” assumido por cada artista. Enquanto o último álbum do coletivo canadense brinca com as décadas de 1970 e 1980 em um sentido quase “caricatural”, como uma coletânea de clássicos da época, GIPWTD nasce apenas como um disco do Belle and Sebastian “temperado” pela essência dançante do mesmo período. Talvez em uma versão “desacelerada”, não seria estranho encontrar músicas como Enter Sylvia Plath, Perfect Couples e The Party Line em qualquer outro álbum do grupo escocês.

Dentro desse jogo de pequenas adaptações rítmicas, diversas composições mantém firme a estrutura doce da banda de Glasgow. Faixas como a confessional Nobody’s Empire, Ever Had a Little Faith e Allie, instantes de respiro, inevitável diálogo com o passado do grupo e um breve descanso antes que as batidas acelerem e o Belle and Sebastian, mais uma vez, convide o ouvinte a dançar.

Tracklist;


01 Nobody's Empire

02 Allie

03 The Party Line

04 The Power of Three

05 The Cat with the Cream

06 Enter Sylvia Plath
07 The Everlasting Muse
08 Perfect Couples
09 Ever Had a Little Faith?
10 Play for Today
11 The Book of You
12 Today (This Army's for Peace)







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