Disco da Semana; 'The King of Limbs', Radiohead (2011)


Disco da Semana; 'The King of Limbs', Radiohead (2011)

Sempre gostei de bandas que me surpreendem. A música pra mim é tudo, menos nostalgia. Admirar uma música ou uma banda do passado não pode engolir o desejo por se conhecer algo novo.
Quando ouvi "Kid A", em 2000, não tive o baque que 99% dos fãs do Radiohead tiveram. Eu aceitei sem pestanejar aquela sensação de 'traição sincera'. "Kid A" e "Amnesiac", os dois discos-irmãos que a banda fez no início dos anos 2000 estão para a carreira da banda como  a fase Berlim de David Bowie nos anos setenta. São os alienígenas que os fãs aprenderam a gostar. Mesmo a volta as 'raízes', que no caso do Radiohead, seria ás guitarras, dos dois discos posteriores, eu não achava que a esquizofrenia demoraria pra voltar. E ela está aqui.
"King of Limbs" é um disco difícil e desagradável. Se alguém que nunca ouviu falar do Radiohead escolher esse disco pra ser a sua primeira experiência, provavelmente vai largar antes mesmo da faixa mais 'fácil', "Lotus Flower", ser ouvida. Mas e quem disse que eles precisam de mais alguma coisa? Quem disse que a genialidade deles está na produção de melodias intrincadas ou em batidas sincopadas?
Não é 'clássico'. Não é 'melhor do ano'. E tudo bem! O Radiohead é uma banda que mesmo quando não quer, faz algo que metade do mundo se mataria pra conseguir. Duvida?
O que dizer de "Separator", que fecha o disco (se é que oito faixas formam um)? É uma das melhores faixas que a banda fez. Estaria em qualquer disco lançado, inclusive nos clássicos "Ok Computer", "Kid A" e "In Rainbows".

"Lotus Flower" entrou direto entre as minhas preferidas de todos os tempos. 
"Give Up The Ghost" é fantasmagórica. Diferente porém igual. Me lembrou muito "How To Disappear Completely".
"Bloom" é quase que uma "Kid A" parte 2. Aliás, músicas como ela e "Feral" são a cara de Thom Yorke. São as típicas experimentações que, hoje em dia só os fãs de carteirinha tem paciência de ouvir. Eu sou um deles.
"Codex" é mais uma clássica. Numa pegada meio "Pyramid Song". Ao vivo, vai fazer muita gente chorar.
"Morning Mr. Magpie" é antiga conhecida. Thom já a tocou várias vezes em formato acústico e agora ela se transformou em outra coisa. Mais uma com o selo pós-rock criado para definir o som que eles vem fazendo. "Little By Little" é praticamente tudo isso acima.
O que mais me chama a atenção é que dificilmente você consegue reconhecer algum instrumento tradicional, seja ele qual for. Se na década passada foram as guitarras, agora o conceito de banda já não existe mais. Se antes eles estavam em Marte, galáxias infinitas já foram percorridas. Pobre dos indies que ainda os enxergam da mesma forma que há vinte anos atrás.
Ouça o disco no mínimo três vezes. Com uma garrafa de vinho e com pouca luz. Não é triste. Não é feliz. É um disco de estado de espírito. Um disco BjörkianoUm dedo do meio para eles mesmos e pra quem ainda os trata como salvação. Uma ode a ser você mesmo.
Mas o bacana de ser fã do Radiohead é isso. Não saber o que se esperar. Nem de você mesmo.
(Márcio Guariba - Um Temperamental Vive Aqui) 
Curiosidade; O nome do álbum é devido a uma árvore de carvalho na Wiltshire’s Savernake Forest, com aproximadamente 1000 anos. A floresta encontra-se a aproximadamente 3 milhas da Tottenham House, onde a banda gravou parte do álbum 'In Rainbows'. A árvore é um carvalho podado, referindo-se à técnica milenar para extração de madeira para cercas e lenha. A frase também aparece no 23º capitulo do Alcorão.
Tracklist
01 Bloom 
02 Morning Mr. Magpie
03 Little By Little 
04 Feral 
05 Lotus Flower 
06 Codex 
07 Give Up The Ghost 
08 Separator 

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